“Mas ai de vós, escribas e fariseus hipócritas...” – Mateus
23.13
Não se engane com o título, porque não é de efeito só pra
que leia o texto. Também não é uma dúvida sobre a missão de Jesus e sua Paixão,
mensagem salvadora e de graça sobre todos, nada disso. É que, de certo modo, um
foi o Jesus da Galiléia e sua estada entre pescadores e miseráveis do Norte da
Palestina, outro o Jesus que se deparou com a guerra religiosa em Jerusalém.
Religião que se misturava com política, cargos públicos do Templo e um sumo
sacerdote nomeado. O que tinha de gente com medo de perder o emprego, você não
faz ideia. A cura do cego de Jericó um pouco antes, tinha a ver com isso,
porque Jesus entraria em Jerusalém onde estavam o que provocavam a cegueira. É
por esta razão que, depois de chamá-los de hipócritas, vai reafirmar que os
verdadeiros cegos não estavam à beira do caminho, mas dentro do Templo, no
centro da religião, bem no miolo. Disse Jesus: “Insensatos e cegos!” (23.17).
Antes de cegos, insensatos, pois desconheciam a miséria e o sofrimento por onde
Jesus havia passado, e a própria perdição. Os religiosos de Jerusalém não
conheciam o Norte, a fome, não davam importância aos endemoninhados perdidos pelos
lados da fronteira e sequer sabiam o que significava andar com Deus.
Quando chegou a Jerusalém, a primeira coisa que Jesus fez
foi chorar. Depois condenou a profanação do templo, e ao entrar pelas portas,
foi direto e decisivo, como se fosse outro Jesus, e não suportou o que era
feito contra o Reino de Deus. Não tinha outra coisa a dizer, senão, fariseu
hipócrita. Isso porque tem coisa que nem Jesus conseguiu suportar. Quando
esteve diante do mal em pessoa, depois de ter passado quarenta dias e noites no
deserto, o máximo que disse foi “vai-te” e o despachou, sem chamá-lo de cego ou
hipócrita. Só que naquele caso, o confronto dizia respeito a Jesus mesmo. Agora,
quando é a casa do Pai que está sobre o crivo da ameaça, do descaso e da
agressão, daí dói. Algo como “não precisava ter sido deste modo”. Mas foi.
Este foi o Jesus inconformado, porque tem coisa que se faz
contra o Pai, às vezes em nome dEle, que não dá pra entender, nem suportar. O
que Jesus queria, pelo menos em Mateus, é que a casa de oração fosse, antes de
tudo, o lugar do cântico das crianças (21.12ss). Um clamor pela simplicidade e
ingenuidade numa única proclamação e preocupação: “Hosana ao Filho de Davi”.
Nada de coisas complicadas e sistemas intrincados de organização e gestão,
coisa simples como cantar. Não ocupa espaço, não tem hierarquia, é profética e,
se profética, não dá pra ficar irritado com quem canta, afinal é apenas uma
música. Fazer o quê com as crianças? Expulsá-las do Templo? Condená-las num
julgamento como fariam com Jesus? Tem um tratado teológico que regule a conduta
de cânticos de crianças? Tem? Dá pra não se encantar? Alguém consegue não
sentir na pele a leveza de vozes tão macias, semitonadas e múltiplas? Tem coisa
mais bonita? E quando a Bandinha Rítmica nos ensina o que é adoração, dá
vontade de morder ou não dá? Crianças que não sabem o que é Estatuto, nem
Regimento Interno, a única reunião que participam é das brincadeiras e quando
cantam, nem precisam saber o que significa a letra, porque tudo já vem puro
desde as raízes.
pr. Natanael Gabriel da Silva
IMPRESSIONANTE!
ResponderExcluirA referência ao canto das crianças emocionou-me de verdade. Tudo poderia ser tão simples, meu Deus!!!