“e disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para
lá; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor.” – Jó
1.21
Bonito, mas incompreensível. O insucesso é quase um atestado
de insuficiência social. Ninguém, após a quebradeira, volta para casa e
agradece a Deus por ter perdido tudo. É mais fácil o questionamento, o
sentimento de impotência, a dor, a incompreensão e não raras vezes, a
depressão, a doença que separa a vontade e o desejo, quase numa ruptura. O
desejo levou você onde o corpo não suportou; um ou outro entrará em estado de
fragmentação, talvez os dois.
Jó manteve a integridade porque não separou a vontade do
corpo. A nudez, para Jó, era o limite do nada. Ninguém consegue perder mais que
a roupa, e o corpo para ele já era o bastante, por ser a habitação da vida. O
futuro já estava traçado, e ninguém se despede da vida com o que ajuntou.
Perder faz parte, porque tudo o que o ser humano construir, com certeza
perderá, pelo menos para si. O Senhor o deu, e eu aproveitei; o Senhor o tomou,
e não me fará falta, basta-me o corpo nu, a vida e a consciência de quem sou e,
principalmente, quem Deus é. Difícil de entender. Nem os amigos de Jó acharam
que isso poderia ser assim.
Não é uma notícia boa para um dia que começa: tudo o que
você fizer, construir, pensar, discutir, lutar, desejar ou buscar, pelo menos
pra você, já está perdido, antes de ser possuído. Se você perdeu a vida pelas
coisas, quando estas forem embora, a vida irá com elas. Não foi o caso de Jó.
pr. Natanael Gabriel da Silva
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