“E, quando Jesus ia saindo do templo, aproximaram-se dele os
seus discípulos para lhe mostrarem a estrutura do templo. Jesus, porém, lhes
disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre
pedra que não seja derribada” – Mateus 24.1,2
Depois de tudo o que já tinha sido feito, depois do Sermão
do Monte, depois das muitas curas, da libertação dos cegos pelo caminho, dos
discursos sobre a vida, sobre o Reino como uma árvore nascida de uma pequena
semente e dos pássaros agasalhados em sua copa, plurais, de todas as espécies,
depois de ter mostrado ao rico que para seguir a Jesus bastava ele, pessoa e
coração, e não as coisas que tinha ou o que fazia, depois do milagre da
multiplicação dos pães, o novo maná servido e sobejado a todos, depois de andar
por sobre as águas, depois de dizer que o semeador saiu para semear, alhures, e
as sementes foram caindo, sem estrutura, imposição ou sacerdotes, caindo como
chuva em dia de verão, então, depois de tudo isso, o orgulho pelo templo é o
retrocesso do retrocesso, a memória que não lhes pertencia e teria sido uma
eterna desconstrutora, caso não tivesse tido um fim.
O fim, não era apenas de um templo ou prédio. Era o fim do
sistema religioso, que em nome de Deus, segregava, perseguia e apedrejava. Fim
de um sistema corrupto, como toda e qualquer organização que toma posse do
sagrado e se dá como sua única interlocutora. Torna-se assim opressora por origem,
destino e comando, orgulhosa de sua simetria doutrinária, organização e,
infelizmente, também orgulhosa de seus bens e recursos, e porque não dizer, de
sua multidão de seguidores. – Nada disso vai ficar de pé, disse Jesus, porque a
vida cristã está nas pessoas, não nos sistemas, está nas ruas de quem sai do
templo, olha para trás e confessa a falta de importância em tudo aquilo. Vale
mais, muito mais, uma viúva à porta e suas duas moedinhas, ou um endemoninhado
banido com sua legião de diabos, ou um paralítico trazido por sobre o teto, ou
uma mulher impura que toca o santo e que além de continuar santo, santifica a
impura, e não o inverso como determinava o sistema religioso segregador, ou
ainda são mais importantes os malditos banidos de Betesda que no tanque
sobreviviam a custa da miséria e da esperança, enquanto a religião no mesmíssimo momento se reunia em festa no
templo. Jesus preferiu estar com aqueles, é claro, porque o Reino dos
Céus é um tesouro que está no campo, não no templo, está nas ruas e Deus não se
encontra, necessariamente, nos atos litúrgicos de adoração, ou nos oráculos
proféticos regularmente determinados a acontecer, com dia e hora previamente
agendados, mais conhecidos como sermões ou homilias. Nada disso. O Reino está
na caminhada pelas ruas, por entre as pessoas, no andar pela vida, onde estão
os campos, os lírios e os pardais que nos ensinam a viver.
Orgulho pelo templo e religião que se professa! Ninguém
merece!
Natanael Gabriel da Silva