terça-feira, 15 de maio de 2012

UMA PALAVRA, APENAS




“Maldito o dia em que nasci; o dia em que minha mãe me deu à luz não seja bendito.”

Dia, ou tempo, ruim pra Jeremias. Nada mais, nada menos, que Jeremias, o profeta. Possivelmente depois, diria que as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque elas não têm fim. Só que isso foi depois, porque parece que a chegada ao Paraíso ou Terra Prometida, sempre vem na trilha de um caminho duro, um deserto. Feliz foi Adão que já nasceu dentro do jardim. Acho que foi o único, e nem assim foi garantia de obediência.

Só que Jeremias não estava em conflito com o Senhor, nem com ninguém, mas consigo. Está impaciente com as suas limitações em não conseguir suportar o sofrimento. Inconformado, aquele povo tinha tudo para não passar pelo que passaria, mas escolhas são escolhas, e às vezes, ou quase sempre, os caminhos do deserto são resultado de uma geografia construída. A pessoa olha para o Senhor, o Paraíso, e escolhe colocar no meio do caminho um deserto. O deserto não estava lá, mas aparece. Deserto pequeno, longo, médio, com bastante penhasco e pedras, ou só areia, aí o ser humano, individual ou coletivo, vai colocando a gosto.

No mesmo texto, Jeremias celebra a presença de Deus e lamenta a própria existência, pra confessar que somos vítimas das nossas próprias escolhas e se, numa remota possibilidade, bem remotíssima, fosse possível, num sonho, uma vida só com base na recomendação de uma única palavra, amor, de imediato não haveria mais guerras, nem gente passando fome, e não seria necessário nem religião. Ninguém caçando ninguém, nem drogas ou traficantes. Uma só palavra e o mundo já não seria mais o mesmo, e nunca mais alguém se lamentaria de ter nascido. Começar a amar: será que conseguiremos um dia?

pr Natanael Gabriel da Silva

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