quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O RETORNO PARA CASA


“Como o pastor busca o seu rebanho, no dia em que está no meio das suas ovelhas dispersas, assim buscarei as minhas ovelhas; e as farei voltar de todos os lugares por onde andam esparramadas no dia de nuvens e de escuridão.” Ezequiel 34.12

É a lei da vida: o ser humano anda e se afasta, e o Senhor o busca. O ser humano se afasta aos poucos; dia lindo, sem ameaça ou perigo, vai andando, olhando pro chão, cabeça baixo, vez por outra mira o horizonte e volta a caminhar, um passinho aqui, outro passinho ali, uma curva, outra curva, uma trilha, uma pedra, um rio e vai indo embora em busca de algo depois do morro, e depois do morro vem outro morro e quando dá por si, as nuvens vão se formando, a noite vem chegando e o perigo mostra a sua cara.

Uma pessoa não se perde de uma vez. Ninguém acorda pela manhã, olha o dia e diz pra si com segurança e desejo: Hoje vou me perder. Claro que não é assim, vai acontecendo sem ser sentido, notado ou pensado, e vai indo até que não se sabe mais onde está, nem quem é, não se aceita e pergunta onde teria estado Deus que o/a deixara se afastar tanto, onde estariam os outros que não viram que se perdera, cadê as pessoas que andavam juntas e não estão mais? E é por conta disso que você se depara com pessoas semi humanas no lixo de praças se drogando, se prostituindo e dormindo em cima de jornais. Ninguém chega a isso de uma única vez.

E o pastor? O que faz o pastor? Sai à procura de vidas perdidas. Ninguém consegue voltar sozinho, esteja muito ou pouco longe. Se fez a primeira curva, já era. Pra voltar, só acompanhado, e acompanhado da pessoa do Pastor. Você acha que é o único, ou única, que está perdido/a? Não, não está. Irá descobrir que permitir-se retornar de mãos dadas com o Pastor não é demérito, é privilégio da Graça, que busca quem quer que seja, em qualquer lugar ou situação. Só o Senhor, nosso Pastor, faz isso, apesar de não ter sido culpado de você ter ido embora. Ele só quer te pegar no colo, e ajudá-lo/a a voltar para casa.

Natanael Gabriel da Silva

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

PÃO SECO



“Melhor é um pedaço de pão seco com paz e tranquilidade do que uma casa onde há banquete, e muitas brigas.” Provérbios 17.1

Em tempo de luta por igualdade social, falar de pobreza honrada é quase uma afronta. Belchior em uma de suas músicas ironiza e confessa com raiva: “Não, não quero contar vantagem, mas já passei fome com muita elegância. E uns caras estranhos - ordens superiores! Já invadiram minha casa... Mas com muito respeito!” Já escutei isso trilhões de vezes e sempre é como se fosse a primeira, me divirto com a criatividade e genial tirada poética.

Só que tem coisa que a gente tem que ficar velho pra descobrir e, então, peneirar o que de fato vale a pena. Chega tarde a consciência e vem pelas perdas, horas e horas de ansiedade pelo consumo, de produtos e de marcas, conforto e pessoas que vão se perdendo no meio desta batalha opressiva de se correr atrás de um negócio que ninguém sabe direito o que significa, o tal do padrão de vida, que não tem padrão nenhum, pois para cada centavo a mais, mais consumo, pra depois descobrir que o riso ficou para trás, esquecido, jogado fora com os amigos que atravessaram a rua e mudaram de calçada, porque ninguém suporta uma pessoa que não sabe andar com pessoas. De repente os filhos cresceram e a casa, linda, arquitetura moderna, também envelheceu, piso que não se usa mais, pintura e textura, tudo fora de moda e o tempo que se passou sob a pressão do trabalho, transformado em pregos, tomou o lugar das pessoas. Você esquecerá os pregos, mas nunca irá se perdoar de não ter gastado tempo com quem amava. Coisas da vida.

O livro de Provérbios não está elogiando a pobreza, mas a simplicidade e a paz. No banquete briga-se com pessoas e uma vida miserável na solidão da fartura e do poder, tipo o coronel de Garcia Márquez, ninguém merece. Um dia desses ouvi a minha mãe e os seus oitenta e quatro anos de conselhos, sobre o que já não importa mais e nem faz diferença, e hoje ela convive mais com as lembranças do que com as pessoas, e as lembranças vão confirmando que, apesar de tudo, foi uma pessoa feliz porque escolheu o pão seco e se doou aos filhos que hoje são vida e lembrança.

Não, Provérbios não entendia do nosso mercado consumidor. Entendia de gente.

Natanael Gabriel da Silva

terça-feira, 27 de setembro de 2011

MISSIONÁRIO DO MISSIONÁRIO



“Contudo, penso que será necessário enviar-lhes de volta Epafrodito, meu irmão, cooperador e companheiro de lutas, mensageiro que vocês enviaram para atender às minhas necessidades.” – Filipenses 2.25

Igreja que sustenta missionário faz isto: acompanha, apóia e vai ver o que está acontecendo. Foi assim que Epafrodito se tornou missionário do missionário, levou ofertas, ficou junto quando Paulo estava preso, adoeceu e quase morreu. Seria uma morte muito triste e Paulo, não disse, mas disse, que sentiria mais a morte dele do que a angústia da própria, a qual estaria próxima, não por doença, mas pela perseguição injusta. Ora, escrever que uma perseguição religiosa é injusta, é redundante, não é mesmo? Paulo também era redundante, repetia o repetido à igreja, tornando o dito superlativo e estava feliz, comovido, porque o missionário do missionário tinha cumprido a Missão e estava prestes a voltar pra casa. Seguramente Timóteo iria, mas Epafrodito talvez necessitasse de mais cuidados ou mesmo Paulo, quem sabe, ainda estivesse precisando de um amigo. Epafrodito estava com saudades de seu povo e preocupado com a preocupação da igreja. É isso mesmo, ele não queria que a Igreja sofresse só por ele ter estado, ou estar, doente. Paulo se preocupava mais com Epafrodito e com a Igreja, que consigo; Epafrodito se preocupava mais com Paulo e com a Igreja, do que consigo; e a Igreja se preocupava mais com Paulo e Epafrodito do que com ela mesma. Só o Evangelho faz isso. Inacreditável. Até parece coisa de outro mundo! E é mesmo, do mundo de Deus, universo da espiritualidade, devoção e humildade, coisa que a tragédia humana não entende.

Agora, sobre Epafrodito, o texto só fala isso. Não diz de sua conversão. Nada que pudesse dar referência sobre o seu caráter, mas pela Igreja que fazia parte, dá pra se ter uma ideia. Ideia, nada mais. Nada sabemos o que fez depois, se foi mesmo embora ou não, se foi apenas quando da libertação de Paulo, ou se antes, se foi e voltou outras vezes, também não sabemos porque não há uma segunda carta de Paulo aos Filipenses. Temos só esta. Paulo aprisionado e uma igreja preocupada, daí alguém se dispôs a ir e levar ofertas e presença, oração e conforto, cara a cara, o que deve ter sido muito bom para o apóstolo, porque o missionário do missionário cuida do missionário, esteja no campo ou na prisão, também não é supervisor que vai averiguar os acontecimentos, mas amigo de apoio e sofrimento, vendo, convivendo e sofrendo com o outro e, mesmo doente, ficou por lá. Epafrodito ficou porque era o que sabia fazer. Não existe uma igreja fundada por Epafrodito. Não há registro de uma viagem, nem de sermão ou pregação. Nenhum texto ou relato que tenha produzido, e teria ficado anônimo na história se Paulo, grato, não tivesse mencionado nome dele, porque para o missionário do missionário, o importante é o missionário.

Depois o missionário do missionário precisava voltar e Paulo já foi logo recomendando que a igreja deveria recebê-lo com alegria, porque a alegria de vocês também alegrará o meu coração, dizia; com alegria e também com gratidão, ao que Paulo toma como honra. Gente boa o desconhecido Epafrodito. Ovelha de Paulo, da igreja organizada por ele e que um dia deu o ombro para o descanso do missionário. Foi o caso típico de ovelha que pastoreia o pastor. A importância de Epafrodito foi ter sido só Epafrodito,  levou ofertas e, principalmente, levou-se a si mesmo, corpo e coração, para ser um (quase) desconhecido.

Natanael Gabriel da Silva

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

VIDA POR EMPRÉSTIMO


“Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus, segundo a promessa da vida que está em Cristo Jesus...” (I Timóteo 1.1)

Ufa! Já estou cansado de ouvir tanta coisa sobre o que seria o Evangelho, que não dá nem pra contar. Uns acham que o Evangelho é bom, pois afinal, uma pessoa de bem precisa ter uma religião. Uma vez alguém me disse que não há lugar melhor pra se educar um/a filho/a que numa Igreja. Isso é verdade, mas não é suficiente. Tem gente que confunde a vida cristã com a imposição de regras de conduta, faça isso, não faça aquilo, aquilo também não, isso aqui não de novo, e de não em não, e raramente um sim, a pessoa vai caminhando e se policiando pra ver se está merecendo dizer-se alguém de Deus.

Pois é, o apóstolo Paulo fez muitas recomendações éticas, isso é verdade. Em alguns casos foi bastante taxativo, mas a motivação dele em ser um cristão, não era necessariamente essa. “Promessa da vida”, este é o termo.

Vida, só em Jesus. Vida entregue, largada, descansada e transformada. Sentido da vida como alvo, meta, traçado reto, sem desvios, subidas ou descidas, como um facho sem variação, diretamente focado e ponte entre o coração de Deus e o do ser humano; porque o Criador, Inventor e Sustentador da Vida, quer dar o quê? Vida, é claro, só vida e simplesmente vida. Antes não havia vida, não havia nem a ideia nem o conceito de vida. Não tinha nada. Teve um dia que Ele disse: Haja! Daí houve, e depois soprou e fez suspirar a vida, que tinha em si, e a emprestou ao ser humano, em comodato, sem aluguel ou pagamento.

Daí se alguém lhe perguntar o que significa ser cristão, responda apenas que é uma questão de vida, isto é, ser cristão é devolver a Deus a vida que a Ele pertence, antes do término do contrato.

Pastor Natanael Gabriel da Silva

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

6 DIAS DEPOIS

 “E seis dias depois Jesus tomou consigo a Pedro, a Tiago, e a João, e os levou sós, em particular, a um alto monte; e transfigurou-se diante deles.” – Lucas 9.2

Seis dias. Lucas menciona oito. Um tempo longo, pelo menos para nós que achamos que a vida de Jesus era cheia de compromissos e prazos, como a nossa. Projetar no passado o modo de vida que temos, faz parte, todo mundo faz isso. Só que seis, ou oito dias, é um bom tempo. Tempo de silêncio. Tanto silêncio que não há o que contar. Não há registro de qualquer sermão, oração ou cura. Nada. Nenhuma caminhada, nenhuma multidão seguindo Jesus e nenhum diálogo relevante entre os apóstolos que merecesse ser registrado. Simplesmente o texto fica mudo. Quando o texto fica mudo, também fala. Fala do silêncio, da calmaria, do ócio, que para nós é quase um crime. Bem, pelo menos para mim. Fui educado para trabalhar e quando tenho que tirar algumas horas do dia pra fazer algo pessoal e necessário, não o faço sem sentir incômodo, mesmo que depois fique em atividade até as dez da noite, ou comece às cinco da manhã. Só que naquele tempo não era assim.

Seis dias sem milagres. Se Lucas estiver certo, aumente dois e será mais de uma semana. Tudo parado, e os apóstolos não sabiam o que viria depois. Nem imaginavam o que seria uma “transfiguração”. Isso é que é milagre! Não foi pedido, desejado, pensado ou imaginado. Novo no sentido, acontecimento e tempo. Inesperado, inusitado e belo. Tão belo que Pedro achou melhor ficar por ali mesmo. Também tinha sido uma semana meio parada. Havia secado a fonte dos milagres? Não, e o milagre nem seria pra eles, e Pedro não tinha nada que dar opinião, porque tem vez que a gente quer meter a colher no milagre dos outros, é ou não é?

Um ano, um mês, semana ou dia. O que será que nos espera? Não sei, só sei que às vezes é necessário subir o monte sem saber no que vai dar, e esperar sem saber o que acontece, e ver o que Deus faz só para Ele, e continuar mudo, porque o silêncio faz parte do que é majestoso.

Pastor Natanael Gabriel da Silva

terça-feira, 20 de setembro de 2011

O VOO DA ÁRVORE

“Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: Desarraiga-te daqui, e planta-te no mar; e ela vos obedeceria.” – Lucas 17.6

Ouvi um dia destes: só se ri entre iguais. A linguagem formal não é necessariamente sinalização de boa educação, mas é sem dúvida de distanciamento. Às pessoas importantes, uma linguagem precisa, fechada, sem expressão facial e de musicalidade previsível. Rir diante de uma autoridade? Nunca! A não ser aquela risadinha política, sem graça em resposta a uma história contada de mal gosto; a tal autoridade te deprecia e você ri sem graça e fica entre o ir embora ou passar vexame. A pessoa não percebeu, mas você ficou um pouco mais longe dela.

Rir juntos, de verdade mesmo, só entre amigos. É aí que entra Jesus e a metáfora cômica da árvore plantada no meio do mar. Imagine os pescadores-apóstolos depois de uma longa pescaria encontrando uma árvore sem chão bem no meio do mar pra amarrar o barco e descansar quando o sol estivesse a pino. Muito engraçado, cômico, porque não é pra entender, é pra rir, achar graça. Antes de estar lá, a amoreira deveria voar sozinha, obediente, e se plantar num lugar onde não faria qualquer sentido. Deus não fez as amoreiras com asas, nem com escamas ou barbatanas. Teria que ser uma amoreira rebelde, que optasse pela solidão à espera do desejo de uma oração. Isso é fé? Claro que não! Os discípulos tinham afirmado com segurança: - Acrescenta-nos a fé. Que fé? Acrescentar é colocar mais, onde já existe pelo menos um pouco. E vocês têm o quê? Não têm nada! Se tivessem um pouquinho, o melhor que chegariam seria plantar amoreiras na água. Como você, e eu, sempre lemos o texto de forma séria e sisuda, não conseguimos rir, e gostaria de ser uma formiguinha pra ver a expressão dos discípulos e a fé que faz voar árvore pro meio do mar, onde não serve pra nada, nem pra fotografia. Curiosidade e fome de sobrenatural, mais nada. Se árvores no meio da água convencem alguém dos próprios pecados, os nossos rios seriam um pomar. Só que não é assim. 

Não era uma repreensão, mas alegria ensinada e dialogada com amigos. Riso como anedota em forma de parábola, lugar da espontaneidade, do desarmamento do espírito e da graça elegante e fina. Riso da infantilidade da fé, e tem muita gente que diz que a tem, mas não sabe o que fazer com ela. Fé para Jesus deveria ser utilizada para o perdão e viver a plenitude do que Deus desejava sem causar estragos, ou, na linguagem do próprio texto, sem escandalizar os pequeninos. Fé que o menor dos menores conseguiria enxergar na vida de quem a possui. Fé pra transportar árvores? Era pra que eles rissem de si mesmos, o riso da vergonha e da infantilidade e tentar imaginar uma árvore batendo asas com os galhos. Rir da falta de sentido e do que o ser humano é, e ficar sem resposta, porque nem desapontado com Jesus seria possível. É engraçado e triste, lamentável e trágico. Fé é algo sagrado, importante demais pra não ter sentido.

Juntar a fé com o riso é desarmar a alma. De qualquer modo, eu jamais seria monge. Sou inimigo do silêncio e da solidão, e quando confundem seriedade e grosseria com honestidade e trabalho, daí não dá nem pra comentar. Mas que só se ri entre amigos, isso é verdade. E tem verdade que, por ser séria demais, só pode ser compreendida por meio do riso e da alegria, isso também é outra verdade. Talvez a salvação seja uma delas: o trágico e indizível de um lado, e a leveza da felicidade de outro; seria esse o caso do “regozijai-vos sempre no Senhor?”

Pr. Natanael Gabriel da Silva

terça-feira, 13 de setembro de 2011

NO SINGULAR E TRADUZIDA


"Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!" (Mateus 6.23b)

Desumanidade. Jesus lutou contra isso e parece incrível que tenha sido necessário. Não seria o religioso o espaço do perdão, misericórdia e aceitação do outro? Não seria o lugar da compreensão, do afeto e do bom trato? Não seria onde se dá a realização do ser humano por completo, sem qualquer tido de vaidade? Lugar do poder e da opressão, onde deveria ser exatamente o banimento destes? Se o poder, a opressão, a injustiça e o desamor passam a contaminá-la, haveria outro lugar a encontrá-los? Outro dia vi uma mulher bêbada e viciada na calçada e fiquei com a sensação de que a pureza havia se perdido. Não é um discurso sobre gênero, machismo ou coisa parecida, mas de filho, que vê na mulher e na maternidade a pureza da vida. Eu sei que é um imaginário construído, mas não consigo me livrar dele. Acho que determinadas pessoas deveriam ser impermeabilizados quanto ao mal, como as mães, porque o que se perde na maternidade não pode ser encontrado em nenhum outro lugar. É como a igreja, se a justiça e o afeto não estiveram nela, vão estar onde?

E foi assim que Jesus começou a ensinar e o fez quando afirmou que a justiça do ser humano, numa nova ordem, deveria exceder a dos fariseus, impiedosamente desumanos. Jesus denunciou isso. Andar com Ele é aprender a andar com o ser humano, caminhar duas milhas, ao invés de uma, uma é pouco e qualquer um faz, dar a outra face também, e o olhar lá de longe pra bem dentro dos olhos de quem negou a amizade, só pra quem é profundamente humano pra fazer. Depois disse a quem o negara: Pastoreia as minhas ovelhas. Pedro, você precisa aprender o que significa andar com gente. Não é Nietzsche, mas não seria um humano, demasiadamente humano? Ter gente que vai dizer que este discurso é humanista demais, mas depois que Deus criou o ser humano e ainda se fez homem, acho que podemos falar desse Deus humano que perdoa, acolhe, e que entende mais da vida humana que qualquer outro, por direito de criação e de cuidado.

Agora, quando a luz se dá como trevas, então as trevas ficam mais trevas ainda, e o superlativo de trevas não existe. Não é escuridão ou falta de luz. Você afasta as trevas analisando o que elas significam? Dá pra levá-las pro laboratório? Dá pra limpar com pano? Dá pra afastar como se fosse cortina e olhar pela janela? Dá não. Não tem porta, nem consistência. Não dá pra pegar, empurrar ou esconder. Nada. Só a luz é remédio para as trevas. Luz no singular e traduzida que se impõe às trevas no plural e enigmática, isso porque o Senhor só precisa de um e dissipa a imensidão, mais nada. Pois é, se a luz se foi contaminada e se tornar trevas, então não tem mais jeito. É como a maternidade, ninguém substitui ou faz remendo.

As trevas funcionam para luz, como a humanização em relação à vida com Deus. Um Deus humano que passou pelo jardim da agonia, tinha sangue e corpo a ponto de ser dependurado e ainda teve tempo de orar e pedir perdão em favor dos que cometiam tal atrocidade. Do começo ao fim, compreensão, afeto e amor. Se a igreja não for assim, então não restam mais esperanças e o céu será apenas fuga.

Pr. Natanael Gabriel da Silva