terça-feira, 4 de outubro de 2011

PLANTANDO ESPERANÇA

“Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento.” – I Aos Coríntios 3.6

Crescimento, e desde o início a Igreja já se viu no conflito entre espiritualidade, valores e vaidades. Vaidades pessoais na pergunta do quem fez isso, ou do quem fez aquilo, num esquecimento de que a vida estava na semente, não no semeador, nem em quem cuidou. Planta feita, completa, totalmente pronta já preparada para a aparição, tudo ali no mistério de um grão quase sem importância. Mistério inexplicável de uma semente agora e árvore depois: isso só podia ser coisa de Deus. Paulo sabia disso desde a antiga narrativa da criação, do Éden, como jardim perfeito e visitado pelo Senhor no cair das tardes. É como se a criação acontecesse a cada manhã, um dia como um ciclo perfeito de morte e vida, num lindo jardim. A beleza da vida só poderia ter nascido lá.

Como não entendemos de plantas nem de árvores (eu pelo menos não, não nasci no campo, não sei cuidar de horta, nem tenho jardim), aplicamos o fast food dos shoppings e passamos por cima das duas primeiras etapas, plantar e cuidar, e vamos logo para os finalmentes. Esta palavra não existe, mas existe a conduta que não respeita o compasso da vida em relação à igreja, porque em tempo de consumo homologamos a era fordista: uma série de medidas, planejamento e execução pra produzir gente. Produzir não, modificar ou transformar. Lembro-me de quando estudava pedagogia e havia até gráfico para mostrar quem era o aluno que entrava na escola (matéria bruta), e qual era a pessoa que se esperava que de lá saísse (o sistema o transformaria num belo produto para ser usado), como se fosse fábrica de produção em série, todos iguais, da mesma cor (a seleção acontecia antes), mesma cabeça e sonhos. O sistema deveria funcionar como uma máquina. Deu certo? Claro que não deu, e não vai dar nunca, porque a vida não é essa coisa a ser transformada e prevista, e Igreja não é fábrica de transformação de gente (eu ia escrever “fábrica de crentes”, mas ficaria uma linguagem hermética demais), não há automatismos, e um botão apertado não resolve muita coisa. O que resolve é a palavra que vai derramando amor, isso resolve. Um pouquinho por dia, e uma vida não cresce só porque você resolveu arrancar o mato. Os fariseus eram pródigos em arrancar o que não servia, e na fúria iam arrancando tudo de uma vez, de tal modo que Jesus um dia contou uma parábola do joio e do trigo, dizendo que os discípulos não deveriam agir daquele modo. Não existem fábricas, só campos. Não há bancadas, mas canteiros. Tem também muito trabalho e dedicação, a vida toda pra toda a vida.

Pois é, a vida está no jardim. Criada e permitida a se multiplicar pelo mistério da mudança que faz uma semente virar árvore, uma árvore virar frutos, os frutos virarem sementes pra virarem árvores outra vez, num ciclo de criação e recriação que não tem fim. Paulo dizia que, com a igreja e o evangelho, é a mesmíssima coisa. Não é uma fábrica, é uma estufa. Demora que demora, e demora o tempo que a vida precisa para ser vida, planta-se um sorriso aqui, um abraço ali, uma atenção lá, e nada de veneno em tempo de ecologia. Não fiz nada, dizia Paulo, só joguei a semente. Apolo também não fez nada, só cuidou. Deus deu a água que Apolo precisou e deu também a vida que estava na semente. O jardim não é meu. Tudo vem dEle e é para Ele. Se fiz algo, foi só jogar a semente, nada mais. Apolo cuidou e a vida cresceu sob o amparo do Senhor.

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