sábado, 22 de outubro de 2011

PÃO PRA TODO MUNDO

“E todos comeram e se saciaram; e levantaram, do que sobejou, sete cestos cheios de pedaços.” – Mateus 15.37

O narrador colocou a multiplicação dos pães e peixes, depois da narrativa da estada de Jesus nas regiões de Tiro e Sidon. Ele tinha ido pra lá pra acudir uma mulher aflita. Sozinha, sem saber o que fazer com a filha, lançou-se aos pés de Jesus, mesmo com todas as restrições e preconceitos que os judeus tinham para com aquele povo. Assim Jesus foi lá, curou a menina e depois voltou. Não foi fácil pra mulher, pois eram doze homens feitos guarda-costas a impedi-la: Despede-a, que vem gritando atrás de nós – disseram eles. Protetores proprietários de Jesus, quando deveriam ser aprendizes. Será que mudou? É claro que Jesus não lhes deu atenção, cuidou da mulher que voltou para casa feliz da vida.

Depois foi Jesus multiplicar os pães, rodeado de pessoas que o acompanhavam por três dias e estavam famintas: Pra todo mundo tem pão. Tem vida e pão também. Sem barreiras, divisas ou fronteiras. Jesus atravessou a linha do impedimento e foi seguido por seus guarda-costas que não sabiam direito o que era evangelizar ou socorrer o aflito. Já percebeu que Jesus nunca deu dinheiro pra ninguém? Também já verificou que todos quantos o procuraram sempre tiveram mais do que pediram? Bastava não ser egoísta como o jovem rico que esperava tudo e mais um pouco, mas não queria abrir mão de nada. Tem situação que não tem jeito, mas sete pães e alguns peixes pra uma multidão comer foi fácil. Dizer pra mulher que a filha estava curada também foi. Curar tanta gente de tanta coisa, pessoas miseráveis e sem rumo, também foi fácil. Tão fácil que o narrador escreve como coisa normal, e se você não tomar cuidado, passa por cima do texto e cai logo na multiplicação dos pães. Agora, o difícil foi os apóstolos aceitarem isso. Eles tinham olhado pra mulher e não viram uma pessoa. Viram as regras, o preconceito e as dificuldades, uma desvairada, descabelada e desequilibrada. Jesus teve outra visão. Pra Jesus a mulher era alguém que precisava ser amada e socorrida. Depois olharam e não enxergaram outra coisa senão apenas deserto. Jesus não viu o deserto. Viu pessoas sentadas em grupos: comendo, repetindo e sobrando. Quando Jesus recebeu os poucos pães e peixes, viu uma quantidade suficiente pra alimentar um batalhão, e o pão não estava no deserto como pensavam os apóstolos, estava ali, e só Jesus viu isso. A questão não era a paisagem, mas o modo de se ver o mundo, e cada um o vê conforme o que tem dentro. A banalização da miséria, tanto para os miseráveis que veem nela um modo de vida, quanto aos demais, tem gerado um efeito anestésico: as pessoas não são vistas, e ninguém consegue ver o outro, apenas a si mesmo como se olhasse num espelho. O miserável olha para quem não é e vê nele apenas o provedor, aquele que vai contribuir com os seus vícios, e na cabeça dele aquele tem obrigação de fazer isso. O que não é miserável olha de volta e vê tanta coisa no outro que não dá nem pra comentar.

De um modo ou de outro o ser humano não sabe quem é o outro. Pra Jesus tinha pão e vida pra todo mundo.  Talvez o nosso papel não seja o de querer multiplicar os pães: isso é coisa de Deus. Basta abrirmos o caminho para que os desvairados se encontrem com Jesus, ou organizar os grupos de famintos para que todos possam compartilhar do mesmo pão. Plantar esperança é isso.

pr. Natanael Gabriel da Silva

Um comentário:

  1. Tarefa mais humildade, a de organizar os grupos de famintos, mas não menos trabalhosa. Plantar esperança é também ver para além de si e aqui vai todo o nosso esforço também. Ver melhor, ser melhor, ser mais, agir melhor.Abraços pastor. Obrigado pela mensagem.

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