Você pode achar que estou fazendo um discurso de quem não sabe direito onde pisa. Isso porque a igreja sempre foi vista como a comunidade que, ao invés de incluir, exclui; é preconceituosa e pouco, ou quase nada, luta pela vida, e que está mais preocupada em se abastecer de pessoas como se fosse um grande depósito, e disputa com outras cada palmo de gente. Será que um dia seremos humildes, simples, conscientes dos próprios limites, ou continuaremos como semideuses do saber? Quando se caminha por determinados lugares, a sensação é a de passear na ilha de Páscoa: cheio de gigantes de pedra - ninguém sabe de onde vieram, nem pra que servem – aparentemente só assustam, e ficam lá como se o mundo os reverenciasse.
Eu não fiquei assustado, fiquei impressionado. Mais que isso, fiquei comovido. Vozes roucas, pouco treinadas, ora desafinadas, ora uns entrando antes de outros, ou sequer entrando, estavam ali me fazendo cheirar o perfume da solidariedade. Havia ali colheres de pedreiro, carrinhos de entulhos, aventais, muitos aventais – de serviços gerais, domésticos, possivelmente de serralheiros, mecânicos e carpinteiros. Havia ali chaves de fenda, panelas, canetas e lápis, pessoas pensando na cinco da manhã da segunda, gente suada, agarrada e dependurada nos tetos, trânsito, conta corrente no vermelho, marido desempregado, crianças na creche, filas de consulta médica no sistema público, calçadas a serem varridas, tanques abarrotados de roupa da criançada que o fim de semana juntou, daí o momento da arte suspende tudo e a vida dá passagem ao sonho de poder fazer parte de um grupo que canta, se encontra e se encanta. Amigos, chefes, patrões, diretores, gerentes e seus subordinados, empregados, funcionários, condôminos e porteiros, todos juntos, iguais, desocupados das suas obrigações e da vida dura, superando o desafino e descompasso, tentando juntar cimento com caneta, avental com farda, tanque de roupa com livros, becas com macacões, ternos com bermudas, sapatos com chinelos, Audi com Fusca, cujo tempero é o doce sabor de pertencer e ser pertencido; um painel de diversidade e pluralidade.
Você chama isso de desigualdade social? Pois é, a gente pensa diferente mesmo. Pra mim isso é inclusão. Por conta dessas coisas sou perdidamente apaixonado pela igreja.
pr. Natanael Gabriel da Silva
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