quarta-feira, 25 de julho de 2012

PERDÃO: PRAZO DE VALIDADE




Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão.” – Mateus 5.25


Eu sei que você não gosta dessa conversa, mas perdão tem prazo de validade. Você prefere o setenta vezes sete, que se refere à quantidade, não ao tempo. A quantidade só vale enquanto houver tempo.

E não é que prazo de validade do perdão está no Sermão do Monte? Está sim. Lá no Evangelho de Mateus, escrito em época de perseguição, onde quase tudo nele tem esse sentido de guerra. Sermão do Monte que tinha que começar com as bem-aventuranças: a felicidade acima da conta em tempo de morte. Ser bem-aventurado é a condição daquele que suporta todas as adversidades, é perseguido, enfrenta uma guerra, mas promove a paz, dedicando-se à defesa da fé com pureza de coração. Os bem-aventurados também são os mesmos que esperam a justiça perfeita e que não irá tardar; choram as suas dores, e já podem viver a plenitude da felicidade, porque serão pastoreados pessoalmente pelo Senhor. Ser humilde de espírito e manso de coração são os desafios em meio à tragédia da vida, mas o resultado é a bem-aventurança da conquista de um reino e a herança de uma nova terra. Observada por essa perspectiva, a perseguição é um privilégio de poucos e motivo de regozijo, especialmente se for absolutamente injusta, permeada de mentira: a injustiça fica mais injusta ainda, e a alegria fica mais alegre ainda. O ser sal não seria outra coisa senão o viver a plena felicidade: beber e se lambuzar do tempo da bem-aventurança durante a travessia da plena turbulência e perseguição. Não adianta querer se esconder: todo discípulo verdadeiro é luz do mundo, vai ser visto e perseguido, as boas obras irão iluminar até quem os persegue, os quais ficarão se perguntando: qual o significado disso? Não é uma questão de fuga. Trata-se da natureza do próprio Evangelho que é assim e somente assim.

Quem não compreende a contradição entre a perseguição injusta, mais injusta que já poderia ter sido vista, em contraste com a dor mais doída de quem sofre sem precisar sofrer, tendo como resultado a alegria mais alegre, jamais compreendida, em poder superar tudo isso, não entende as bem-aventuranças, talvez nem o Sermão do Monte. Lindo, né? A matemática é simples: o suprassumo da perseguição sofrida, depois o suprassumo da dor vivida, e finalmente o suprassumo da alegria desfrutada. A expressão não poderia ser outra: bem-aventurado. E tá de bom tamanho. Felicíssimo é quase a mesma coisa, mas prefiro o bem-aventurado. Fica mais bonito, é uma palavra sagrada do meu imaginário, e para mim é mais pura, mais santa. Símbolo religioso é símbolo religioso, não dá pra mudar, senão perde o brilho, não é mesmo?

Pois é, uma perseguição assim faz a comunidade se fragmentar. Ela se volta “para dentro”, embota, passa a dedicar todo o tempo na tentativa de resolver problemas que não têm solução. Mateus está muito preocupado com esse assunto. A comunidade não pode parar e nem se matar. Uns matam tirando a vida do outro e não percebem que morrem juntos. Outros matam negando o perdão, e também não percebem que a falta de perdão é homicídio seguido de suicídio: primeiro mata, depois se mata; se mata, mas fica vivo, sempre se lembrando do que poderia ter sido, mas não foi, e morre diariamente uma morte consciente. Então o perdão não é uma questão de opção, mas necessidade de sobrevivência. Mateus é bastante claro: tente resolver o problema, caminhe com o ofensor, mas resolva logo, enquanto está no trajeto, isto é, enquanto for possível mudar a situação. De que adianta resolver algum problema depois de 10, 15 ou 20 anos? A situação não poderá ser mais modificada ou consertada, porque não dá pra refazer a história, o tempo passou, o cenário mudou, a vida mudou, a história é outra, e o perdão vira apenas um problema de consciência. A pessoa passa a sentir paz interior, mas isto é muito pouco. No último momento, faz a pessoa despedir-se da vida em paz. Teria sido melhor se tivesse vivido em paz.

O perdão é uma dádiva de Deus. O problema é que tem prazo de validade. Sinto muito.

Pastor Natanael Gabriel da Silva

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