segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

NATAL DOS ANJOS

“E eis que um anjo do Senhor veio sobre eles, e a glória do Senhor os cercou de resplendor, e tiveram grande temor.” Lucas 2.9

A felicidade foi dos anjos, mas o nascimento de Jesus não era, necessariamente, para eles. De certo modo sim, de certo modo, não. Era para as pessoas. Não somente pessoas, mas abandonados, rejeitados, doentes, marginalizados e sem futuro. Você pode achar que os seres celestiais exageraram, ou será que somos nós que valorizamos de menos? Pra ter havido tanta festa, não era pouca coisa. Finalmente os esquecidos teriam alguma oportunidade. Pessoas comuns, sem nomes, que ficavam esperando um milagre, também de um anjo, como no poço de Betesda, por exemplo. Um anjo, que nada falava, descia e agitava água e quem chegasse primeiro, levava a bênção. Coisa que ninguém explica direito ou sabe dizer a razão e o modo. Miseráveis da esperança remota, aguardando um anjo que viria. Quando? Ninguém sabia.

Naquela noite também ninguém esperava. O texto não menciona se havia doentes ou necessitados. Com certeza não estavam prestando nenhum culto, talvez nem orações, e o que os pastores estavam pensando, é outra coisa que não dá pra saber. Surge o anjo, do nada, para o mistério ficar ainda mais misterioso. No silêncio da noite, possivelmente calma, balido de ovelha, céu claro e limpo e num estrondo, aparece um anjo sabe-se lá de onde. Rompeu o silêncio de uma vez só: estava acontecendo o centro da história. Talvez os pastores não soubessem o que seria história, muito menos se teria centro, mas o anjo não fez cerimônia e foi logo anunciando. Se não tivesse havido anjo, alguém saberia do nascimento de Jesus? Essa não é uma pergunta séria, porque o sério era a celebração. O anjo solenemente, como nas festas da chegada dos reis e imperadores, entrou de uma maneira tão esplendorosa que o texto de Lucas diz que a Glória do Senhor os cercou. E foi conversar logo com pastores. Poderia ter sido com os líderes religiosos, mas não é sempre que quem detém o poder religioso entende das coisas de Deus. Antes de nascer, Jesus já mostrava o seu cartão de visita. Daí o lugar ficou majestosamente santo, e o anjo anunciou como se fosse, acredito, uma trombeta aguda numa solenidade real: - Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria. Em seguida apareceram os seres celestiais em cena. É um crescente estético, um momento apresentando e descortinando outro, cada parte com a sua beleza e sentido, até que o céu se despencou em cânticos. Nunca mais se poderia dissociar Jesus de seu berço, animais e estábulo, longe do templo, dos sistemas religiosos que tinham pervertido a religião, quando a vida com Deus é coisa simples, como o estar num barraco, e o lugar sagrado já não seria mais Jerusalém, mas o campo. Lá fora, chamado de mundo, numa estrebaria, que abrigou um casal sem teto, noutra cidade, na verdade uma vila, lugar desprezado e esquecido, e foi lá que o anjo apareceu, os seres celestiais também e o céu se tornou em festa. Festa que deveria ser mais nossa que dos anjos, mas foi assim.

Céu e terra, tempo e eternidade, pessoas e anjos, noite que virava dia e manjedoura que se transformava no abrigo desabrigado mais comentado da história. Tudo estava junto e acontecendo ao mesmo tempo. Parecia um lago quando reflete o céu e você não sabe direito o que é céu, nem o que é lago, e os dois que são belos separados, se tornam mais belos ainda quanto estão juntos. Foi assim naquele dia, e Deus tocava a história humana com as próprias mãos, ou melhor, com o corpo inteiro. A nossa história nunca mais seria a mesma.

 pr. Natanael Gabriel da Silva

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