terça-feira, 13 de dezembro de 2011

NO PAPEL E NO ROSTO

“Esta é a frase que foi escrita: MENE, MENE, TEQUEL e PARSIM.” – Daniel 5.25

Fui procurado, várias vezes, por pessoas queridas que não gostam muito desse negócio de se projetar o texto bíblico na tela, via datashow. Por um lado, a justificativa é a perda da espiritualidade, ou se preferir, o texto fica menos sagrado. Por outro, dispensa trazer os textos pros cultos e daqui a pouco ninguém vai mais encontrar nada em lugar nenhum: tadinho do livro de Habacuque, sabe onde fica? Já escutei reclamação até em casa. Pois é, tem um pouco de verdade nisso, mas projeção por projeção, não fui o primeiro, nem serei o último. Um dia, no tempo de Daniel, o texto foi parar na parede. Em tábuas de pedra, a gente já conhecia da época de Moisés. Daí um aluno um dia me procurou pra perguntar se havia algum texto original, original mesmo, escrito pela mão de Moisés. Disse a ele que não, e que até as tábuas da lei eram cópias: as primeiras o próprio Moisés jogou e quebrou num ato misturado de indignação e fúria. Bíblia não se joga, e quem fizer isso não sobrevive no nosso meio. Moisés fez, não aconteceu nada, mas Moisés era Moisés.

Daniel também era Daniel e quando se deparou com o escrito, que não estava num pergaminho, ou no sagrado templo, mas na parede e num lugar que chamar de profano seria pouco, não teve dúvidas: a Palavra de Deus pode ser escrita em qualquer lugar. A parede talvez não fosse o mais adequado para alguns, nem o ambiente de Belsazar que era o cúmulo da carnalidade, mas lá estava a Palavra, e fez efeito. Pros antigos, a festa parecia um carnaval, pros mais jovens, seria Rave. Só que, se o lugar era ou não impróprio, importa que o texto apareceu bem no alto e grande. Grande? Enorme, isso sim, e na minha imaginação estava em vermelho, Arial Black. Era uma sentença de morte para Belsazar e que ficara devendo pra balança. Gente ruim esse tal de Belsazar, irônico bebeu o vinho da festança nas taças sagradas do templo, talvez desejasse ser deus pra fazer uma coisa dessas. Daí veio a mão, o texto, a acusação, a sentença e a condenação. Belsazar não passou daquela noite. Agora, que o texto estava na parede, estava mesmo, e a profanação não estava no fato de ter sido escrito lá, mas no modo de vida de quem celebrava o que não devia, e se dava como senhor de si.

O texto pode estar num livro, na projeção, na parede ou no rosto de alguém, e isso não o diminui. Um dia Jesus olhou pra uma mulher num poço e leu o que estava em seus olhos, narrou sua história, disse de sua vida e não precisou nem de papel. Porque a Palavra de Deus está no papel, na parede, na vida, e será sempre Palavra do mesmo jeito. Tem gente que acha que guardar a Palavra no coração é decorar leis e regras, minúcias, endereços de textos, e coisa do gênero, porque acredita que o texto está no papel e não na vida. E qual foi a primeira palavra de Jesus, depois de ter sido confrontado pelo mal por quarenta dias? Lembra? Pra Mateus, um judeu cristão, Jesus reescreveu a Lei no Sermão do Monte. Agora, para Lucas, Jesus entrou na sinagoga e declarou a vida “O Espírito do Senhor está sobre mim”. Pra que? Para pregar as boas novas aos pobres, proclamar liberdade aos presos, dar vista aos cegos, libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor. Todas as expressões se referem a pessoas, gente perdida e sem rumo. Pessoas são textos vivos, com as quais nos encontramos, dialogamos, amamos ou oprimimos. Colocar a Palavra no coração, ou ter o Espírito do Senhor, tem a ver com o que se aprende com o texto, como este pode ser aplicado a si, ao outro e à vida. Acho que foi isso que Jesus fez.
pr. Natanael Gabriel da Silva

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