quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

SIMPLICIDADE E PUREZA

“Jesus sentou-se em frente ao cofre das ofertas e observava como a multidão colocava dinheiro no cofre.” (Marcos 12.41)

Jesus, nesse tempo, já estava em Jerusalém. O cenário era outro e a vida urbana da cidade tinha outra cadência e preocupações. A miséria do desamparo, na região da Galiléia, centro-norte da Palestina, havia ficado para trás. Ficara também a multidão de famintos que o seguia esperando mais uma multiplicação de pães e peixes. O discurso do Templo é suficiente para mostrar que o ambiente não era mais o do acolhimento, mas do conflito, o que Jesus já sabia por antecipação. Ali estava o centro de uma religião que não precisava de Jesus, e sequer o poderia incluir.

Por conta disso foi possível sentar sem ser rodeado. Ninguém perguntando nada ou esperando alguma coisa. Foi Aristóteles quem disse que só se produz filosofia com o ócio. Seria difícil imaginar o quanto a vida pastoral precisa disso, pra pensar, escrever, pregar, criar situações e resolver problemas que aparentemente não teriam solução, e não sei quantos desses resolvi nas longas conversas com a minha parceira ao redor da Lagoa do Taquaral. Lá escrevi muitos textos, elaborei sermões, encaminhei soluções às dificuldades da Igreja e outras da Faculdade Teológica, e fiz longas orações. Acho que Aristóteles tinha razão, e se filosofia e qualidade de vida são, de certo modo, próximas, então isso explica a nossa incapacidade de pensar e resolver problemas com a calma e paciência que a costura exige.

Foi na calma e paciência que Jesus sentou. Do seu ócio, nasceu a história da viúva sem nome. As observações dele, incluídas as daqueles dias, tornaram-se cultura e modelo: Deus não se vende, e a riqueza está no coração. Uma pessoa sem nome pode ser mais importante que muita gente, e duas moedas podem ter mais valor que uma fortuna; que a verdadeira espiritualidade não reside nas orações litúrgicas e nos grandes momentos de celebração quando o sagrado se mostra luminoso, mas às vezes está do lado de fora, onde as intenções do coração emergem na vida e atitudes. A viúva nunca soube que tinha sido observada; talvez Jesus tenha sido para ela um desconhecido.

Simplicidade e pureza. Até Jesus parou pra ver.
Pr. Natanael Gabriel da Silva

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