terça-feira, 6 de dezembro de 2011

COMO SE FOSSE

“Israel é uma vide frondosa; dá fruto para si mesmo...” – Oséias 10.1a
Depois continua o profeta dizendo algo mais ou menos assim, a respeito do Senhor: Se dou comida, eles sacrificam e agradecem outros deuses, se dou árvores, transformam seus troncos em ídolos. Não posso dar nada pra eles.
Isto deve ser muito difícil: Deus ter o amor para derramar, e não poder fazê-lo.
Uma vez disse a um amigo, músico, poeta, que tinha paixão em falar sobre Nietzsche, brigado com a vida por conta de sua sensibilidade, não entendia nada do nosso consumismo desenfreado, não sabia nem ganhar, muito menos gastar, e tinha que ser só para ser mais autêntico: - Você agride o mundo com a sua arte. É o seu modo de resistência. Continuei: - Deve ser muito difícil não conseguir dialogar com a vida.
Eu sei que ele sabia disso. Fernando Pessoa também sabia quando afirmou ser o poeta um fingidor. O músico olhou com surpresa, passou a mão pela barba mal cuidada e interrogou com o rosto como seu eu tivesse entrado no seu universo mais íntimo. Depois riu largado, e ainda estou vendo os seus olhos pequenos e a cabeça sendo jogada para traz. Dei-lhe um abraço e ganhei um amigo.
Não chegaria ao limite de afirmar que às vezes acho que o Senhor não sabe direito o que fazer com o próprio amor. Tem hora que isso passa pela minha cabeça, confesso. Só sei que o ser humano às vezes, ou quase sempre, dá fruto pra dentro. Cresce ao contrário e se apodrece ou atrofia, isso eu não sei. Ele se enche do que tem, como se fosse dele, pega o que não lhe pertence e faz o que não deve.
Coisa pra se pensar, não é?
pr. Natanael Gabriel da Silva

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