quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O MAL INSTITUCIONALIZADO



“E como insistissem, perguntando-lhe, endireitou-se, e disse-lhes: Aquele que dentre vós está sem pecado, seja o primeiro que atire pedra contra ela.” – João 8.7

Quando Jesus dialogava com uma pessoa, individualmente considerada, em situação de miséria e pecado, sempre a tratava com profunda dignidade e respeito. Por outro lado, quando se deparava com o pecado instituído e defendido pelo sistema religioso formal, tratava os interlocutores como hipócritas e demonstrava nítida repulsa, porque para ele, nada mais deprimente que uma comunidade que instaura, coletivamente, o mal.

O texto de João nos mostra isto. Os justiceiros, de pedras na mão, se apresentaram ali como religião constituída. Democraticamente haviam julgado a adúltera e, fundamentados no que havia de mais claro e nobre, sem qualquer sombra de dúvida, sentenciaram a infeliz à morte e se tornaram, em nome de Deus, defensores da moralidade e da pureza. Estavam ali adúlteros, roubadores, usurpadores e politiqueiros das coisas religiosas, porque não desejavam qualquer justiça a não ser agredir Jesus. Utilizavam assim o mecanismo da purificação com o objetivo de alcançar Jesus. Não só decidiram por impulso, mas insistiram, confirmaram o desejo e decisão. Quem sabe se naquele dia não seria o grande prêmio? Dois numa ação: Jesus, principal alvo e, de quebra, o apedrejamento de uma adúltera imoral em prol da santidade e pureza! Não tinha como dar errado, mas deu, porque o olhar para o mundo interior revela monstros e misérias escondidas, não assumidas, mas que corroem sem consumir.

O texto iria ensinar, mais tarde, que o responsável pela santidade da Igreja não são os seus adeptos, mas o próprio Jesus. Foi ele quem morreu pela Igreja para que esta se apresentasse sem mácula nem ruga. Não são os participantes da comunidade institucionalizada que têm poder e capacidade, por banimento ou preconceito, de efetivar o que compete à espiritualidade profunda. Pecadores não podem banir pecadores. E a esquizofrenia do protestantismo histórico e tradicional reconhece que, banir uma pessoa do grupo religioso, não significa excluí-la do Reino de Deus. Com outras palavras, você pode fazer parte do Reino de Deus, porque lá a graça aceita tudo, mas não pode fazer parte desta comunidade específica, porque aqui somos exigentes e zelamos pela pureza. Continue no Reino. Vamos orar por você, mas não aqui. Somos impuros, mas você é extremamente impuro, muito impuro mesmo, e não pode caminhar conosco. Quando for menos impuro, retorne humilhado, talvez seja possível recebê-lo/a de volta.

Pureza? Seletiva, é claro; de quem se apresenta para jogar a pedra e esconde o adultério, pessoal ou de alguém protegido pela família, empurrado pra debaixo do tapete. A uma comunidade assim Jesus chamou-a de hipócrita. Isso porque a malignidade nessa forma de segregação está no fato de ser consciente, discutida, aprovada e executa com os requintes do abandono e da prepotência. É o mal apoiado, votado e registrado em Ata, como se Deus fosse leitor de texto e não de coração e intenções.

Jesus não desejou fazer parte de uma comunidade assim. Sigo sua orientação e decepção: eu também não. Se você perguntar a alguém: - Se tivesse que escolher, qual personagem gostaria de ser no episódio de João 8? A resposta, depois de meio segundo de reflexão, com certeza será: - A mulher adúltera, sem dúvida. Isso porque a hipocrisia é pior que o adultério, e a homologação do mal coletivo é mais asqueroso que qualquer pecado que tenha como sentença a morte. Se você pensou que gostaria de ser Jesus, não se preocupe, o querer ser Deus faz parte do imaginário popular.

Em João 8 quem iria morrer, viveu. Os que se achavam vivos, com decisão e Ata votada de sentença de morte, voltaram mortos para casa, carregando as vidas miseráveis.

Aquela mulher não era uma excluída. Era uma privilegiada. Não pelo que cometera, mas pelo perdão e liberação dados pessoalmente por Jesus. Só ela ouviu “o eu também não te condeno”, volte para casa, liberte-se da punição e redirecione a sua vida, porque graça é perdão ilimitado, oportunidade e inclusão.

pr. Natanael Gabriel da Silva

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