“Porém ele lhes disse: Sou eu, não temais” – João 6.20
Eu sei que o Evangelho de João pode ser considerado o livro
dos sinais. Também sei dos longos discursos enigmáticos de Jesus, mas sei
também da presença marcante deste neste Evangelho, não como aquele que atendeu
os excluídos (Lucas), nem apenas como aquele que reformulou e reescreveu a lei e
a história sagrada (Mateus), ou ainda como aquele que se apresentou como um
servo obediente (Marcos), mas principalmente, e prioritariamente, em razão do “Eu sou”.
“Eu sou a luz do mundo”, está em João. “Eu sou o bom pastor”,
também. “Eu sou a porta das ovelhas”, “eu sou o pão da vida”, “eu sou o pão
vivo que desceu do céu”, “eu o sou, eu que falo contigo”, “se não crerdes que
Eu Sou, morrereis nos vossos pecados”, “antes que Abraão existisse, Eu Sou”, “eu
sou a ressurreição e a vida”, “vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem;
porque eu o sou”, “desde já vos digo, antes que aconteça, para que, quando
acontecer, creiais que Eu Sou”, “eu sou o caminho, e a verdade, e a vida”, “eu
sou a videira verdadeira”, tudo isso está no Evangelho de João. E quando Jesus recebeu
uma identidade imposta, fora do eu sou, foi um desastre: “Os principais
sacerdotes diziam a Pilatos: Não escrevas: Rei dos judeus, e sim que ele disse:
Sou rei dos judeus”. Daí o “eu sou” foi ironizado, pervertido, transformado na
anedota histórica do rei nu morrendo dependurado sob o desejo e ação de seus
súditos. Anedota que não teve graça. Só que o “eu sou” continuou sendo, porque
tem coisa que faz o ser humano rir, mas o “eu sou” sofrer.
O “eu sou” basta, porque só ele tem a capacidade se dar ao
divino a condição do humano, e ao humano a profundidade para se encontrar com o
sentido da vida. O “eu sou” é resposta e pergunta, conteúdo sem conteúdo porque
não é possível de se saber o tamanho do “eu sou”, tem a divindade no seu
mistério profundo, mas tem também a simplicidade de quem se entrega e nos
ensina que a vida é possível sob o manto da humildade e do amor. O “eu sou” vem
desde o Sinai, na história. Também vem do divino mais divino e se dá como o
humano mais humano. Tem a dimensão da criação, mas tem também o caminhar com o
que foi criado, no mesmo espaço, tempo e sofrimento.
O “eu sou” basta. Ele diz na madrugada do vento: "não temais".
Pr. Natanael Gabriel da Silva
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