“E naquele tempo se
levantará Miguel, o grande príncipe, que se levanta pelos filhos do teu povo, e
haverá um tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele
tempo; mas naquele tempo livrar-se-á o teu povo, todo aquele que se achar
escrito no livro.” Daniel 12.1
A linguagem apocalíptica padece desse drama: você nunca consegue identificar se a promessa é de restauração ou se expectativa de vingança; um pouco de cada, os dois juntos e, em algum momento, um mais que o outro.
Tanto a figura enigmática
de Miguel em Daniel, quanto as celestiais do Apocalipse, são discursos de forças que
extrapolam a existência humana. Estão além até mesmo das forças da natureza. A natureza,
por si só, já é se impõe sem controle. Imagine algo além. É a cidade eterna, semelhante a Roma, mas muito mais
nobre que esta. Se Roma tinha a Via Ápia, as ruas do céu serão de ouro; se em Roma
havia o Senado, o céu será guardado por anciãos; se Roma tinha um Imperador,
no céu nem se fala. Só que o céu, diferente de Roma, está além da conquista. Os
soldados romanos jamais conquistariam o céu, que iria, literalmente, despencar
sobre eles. Daí as bem-aventuranças mencionando que o Reino de Deus (ou dos
céus) se conquista de outro modo. Nas bem-aventuranças não está presente, nem
de longe, qualquer desejo de vingança ou de superação por meio do conflito e da
beligerância. Situa-se no campo das promessas.
Agora, quando você se depara
com o orgulho cristão que remete, com sabor de vitória, um ateu confesso à
perdição eterna, isso não é promessa, mas vingança. Desumano, nojento,
impróprio, coisa pequena demais, religiosidade tribal e primitiva. Uma
verdadeira expressão de desrespeito e um anticristianismo. Não tem nada a ver
com a linguagem apocalíptica, escrito em tempo de perseguição e morte, e
que precisa ser lido como um sonho e resposta dos cristãos em razão do sofrimento.
Um viver pela Graça, Graça
mesmo, no seu sentido maiúsculo, por outro lado, vê o céu como promessa de
redenção, apenas redenção. Não como um lugar de justiça, na perspectiva da
vingança, mas do recebimento do amor eterno e da vivência de uma plenitude na
presença de Deus. É uma Graça que sofre, e só ela pode compreender o clamor de
Jesus diante de Jerusalém: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e
apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir teus filhos
como a galinha ajunta os do seu próprio ninho debaixo das asas, e vós não o
quisestes!” (Lucas 13.34).
Pr. Natanael Gabriel da
Silva
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