terça-feira, 11 de dezembro de 2012

ENTRE A REDENÇÃO E A VINGANÇA


“E naquele tempo se levantará Miguel, o grande príncipe, que se levanta pelos filhos do teu povo, e haverá um tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele tempo; mas naquele tempo livrar-se-á o teu povo, todo aquele que se achar escrito no livro.” Daniel 12.1

A linguagem apocalíptica padece desse drama: você nunca consegue identificar se a promessa é de restauração ou se expectativa de vingança; um pouco de cada, os dois juntos e, em algum momento, um mais que o outro.

Tanto a figura enigmática de Miguel em Daniel, quanto as celestiais do Apocalipse, são discursos de forças que extrapolam a existência humana. Estão além  até mesmo das forças da natureza. A natureza, por si só, já é se impõe sem controle. Imagine algo além. É a cidade eterna, semelhante a Roma, mas muito mais nobre que esta. Se Roma tinha a Via Ápia, as ruas do céu serão de ouro; se em Roma havia o Senado, o céu será guardado por anciãos; se Roma tinha um Imperador, no céu nem se fala. Só que o céu, diferente de Roma, está além da conquista. Os soldados romanos jamais conquistariam o céu, que iria, literalmente, despencar sobre eles. Daí as bem-aventuranças mencionando que o Reino de Deus (ou dos céus) se conquista de outro modo. Nas bem-aventuranças não está presente, nem de longe, qualquer desejo de vingança ou de superação por meio do conflito e da beligerância. Situa-se no campo das promessas.

Agora, quando você se depara com o orgulho cristão que remete, com sabor de vitória, um ateu confesso à perdição eterna, isso não é promessa, mas vingança. Desumano, nojento, impróprio, coisa pequena demais, religiosidade tribal e primitiva. Uma verdadeira expressão de desrespeito e um anticristianismo. Não tem nada a ver com a linguagem apocalíptica, escrito em tempo de perseguição e morte, e que precisa ser lido como um sonho e resposta dos cristãos em razão do sofrimento.

Um viver pela Graça, Graça mesmo, no seu sentido maiúsculo, por outro lado, vê o céu como promessa de redenção, apenas redenção. Não como um lugar de justiça, na perspectiva da vingança, mas do recebimento do amor eterno e da vivência de uma plenitude na presença de Deus. É uma Graça que sofre, e só ela pode compreender o clamor de Jesus diante de Jerusalém: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir teus filhos como a galinha ajunta os do seu próprio ninho debaixo das asas, e vós não o quisestes!” (Lucas 13.34).

Pr. Natanael Gabriel da Silva

Nenhum comentário:

Postar um comentário