segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

AS TREVAS COMO HABITAÇÃO DE DEUS


 
“Então, disse Salomão: O Senhor tem dito que habitaria nas trevas. E eu tenho edificado uma casa para morada e um lugar para a tua eterna habitação.” 2 Crônicas 6.1,2

Acho que naquele dia Salomão sentiu-se como aquele que estava salvando Deus da imensidão. Um Deus desabrigado, morador no indefinido, carente de aparição e adoração e que precisava encontrar um lugar pra reclinar a cabeça. Se Salomão fosse Deus, teria ficado feliz com a nova casa, cheia de beleza, grandiosidade, gente e rituais; roupas específicas para as solenidades e um lugar pra Salomão mostrar aos povos vizinhos a sua nova propaganda de guerra.

Não sei se Salomão conseguiu tirar Deus das trevas. As trevas são o enigma do que não pode ser visto. Não se pode falar, nas trevas, nem de espaço, porque o seu tamanho é o ocultamento e o ilimitado. Nelas é impossível ver o rosto e ter noção de quem nela se oculta. Mistério Absoluto, como diria Rahner. Não é um mistério que um dia estará disponível para análise e observação. É um Mistério sem solução, sem possibilidade de ser desvendado, compreendido em sua totalidade ou experimentado em toda inteireza. Apenas Mistério, absolutamente mistério, revelado, primeiramente, por um nome. Nome que não foi escrito na antiga cultura judaica; só por meio consoantes que ninguém sabe dizer qual é a pronúncia correta. Um inominável. Nome contrabandeado da cultura grega pelos escritos do Novo Testamento a partir da causa não causada de Aristóteles, do motor imóvel, que pode ser aportuguesado por theós, e daí começou o entrelaçamento da filosofia com a teologia, e também ninguém sabe onde começa uma e termina a outra.

Por tudo isso, e além disso, Salomão decidiu tirar Deus das trevas e fez um lugar que já não existe mais. Daí Deus voltou às trevas, e não há lugar mais próprio, imenso e desconhecido que as trevas do coração humano. Dizer que Deus é trevas e luz, ao mesmo tempo, significa que uma e outra são as mesmas coisas. Deus continua desconhecido no interior do desconhecimento humano sobre si mesmo, e isso é que O torna importante. Ele continua Mistério, no interior do nosso próprio mistério, para nos dar um sentido de vida. Diferente de Salomão quando Deus é salvo das trevas, no nosso coração, é Ele que nos salva do desconhecido. Não precisa ser visto, basta a presença dEle.

Pr. Natanael Gabriel da Silva

Nenhum comentário:

Postar um comentário