“E ele lhes disse: Um inimigo é quem fez isso. E os servos
lhe disseram: Quereis pois que vamos arrancá-lo? Porém ele lhes disse: Não,
para que ao colher o joio não arranqueis também o trigo com ele.” – Mateus 13.29,30
Daí o ceifeiro saiu a ceifar. Afiou a ferramenta, muniu-se
da própria justiça, porque quem ceifa se acha senhor e tutor do ceifado, tem
sobre ele o poder de tirá-lo ou não, dar-lhe um dia a mais de vida, ou não,
permitir que viva até o tempo determinado, ou não, porque o ceifeiro é dono dos
valores, acha-se a si mesmo plenipotenciário a ponto de, ele mesmo, jamais ser
ceifado. Dono da vida e morte, tem as chaves do Reino e é capaz de determinar,
por observação e vocação, quem pertence ou não aos céus.
O ceifeiro havia faltado à aula do amai-vos uns aos outros
como eu vos amei. Ficara com preguiça, dormira até mais tarde, ou simplesmente
pensava na vida, sem lenço e sem documento, num domingo de quase dezembro,
imaginando a coca-cola ou o casamento e jamais iria se lembrar do vós sereis
meus discípulos/amigos se vos amardes uns aos outros. Vagamente irá se lembrar, de
tanto ser repetido, que há dois mandamentos supremos e significativos que
superam qualquer religião, ritual ou moralidade: amar a Deus sobre todas as
coisas e ao próximo como a si mesmo. É que o ceifeiro, como todo e qualquer
ceifeiro, utiliza duas pontas: para os amigos, amor; para os inimigos, a lei.
Nisso se dá bem, porque tem as duas caras da sobrevivência, por um lado convive
com toda a maleabilidade com os amigos e, quem o acusará de ser injusto? Aos
amigos, perdão. Aos inimigos, justiça. Aos amigos, compreensão. Aos inimigos,
separação por conta da pureza e da santidade. Daí o ceifeiro é um politiqueiro,
perdoa quem quer, quando interessa, pune quem quer, quando isso lhe dá o
prestígio de ser puro e lutar pela santidade do Reino e dos objetivos mais
nobres do Evangelho.
O ceifeiro é um beligerante. Sai a campo, a titulo de
defender a sã doutrina, e se dá como um atirador de alvo certo. É um desumano
em nome do amor, e um plantador de desavenças. Num dado momento acha que o que
falta no mundo mesmo é o amor, porque ele mesmo não sabe onde este se encontra.
Belchior, sobre a chegada de Cristovão Colombo à América, diz que ele: “Trazia
em vão
Cristo
no nome, e em nome dele o canhão”. Cristovão, ao contrário, é vão Cristo; beligerante, atirador, portador do
canhão que explode todo mundo pra limpar o caminho. É um ceifeiro que saiu para
separar uns e outros e que estava cansado quando Jesus lavou os pés dos
discípulos.
Uns saem pra semear: e eis que o semeador saiu pra semear.
Oferecem a contribuição da vida e esparramam amor como quem joga sementes em
todos os lugares, no caminho do vento, sem escolher coração ou solo. Outros
assumem a autoridade do domínio da ceifa e saem cortando e arrancando o que
encontram pela frente, protegem os amigos, e se dão no campo de batalha do lado
errado. Por um lado, têm o poder, capacidade e coragem pra fazer isso. Por
outro desconhecem o sentido da palavra amor em relação aos outros, mas também para si
mesmos. O ceifeiro é um infeliz que não sabe que amor e Cristo têm o mesmo significado; ao perder-se um, perde-se o outro. E não há experiência subjetiva e mão levantada que resolva isso.
pr. Natanael Gabriel da Silva
E isso é tudo por enquanto... porque haverá um dia em Jesus olhará bem fundo nos olhos de todos nós e vai nos separar e dizer "...vinde benditos de meu Pai para o que eu vos tenho preparado..." Ele mesmo irá nos consolar!
ResponderExcluirObrigada por seu texto, valeu! Deus os abençoe, sempre!
Como sempre, meu eterno mestre. Te amo, pai.
ResponderExcluirMuito bom! Simplesmente um texto riquíssimo.
ResponderExcluirParabéns meu amigo.