domingo, 1 de abril de 2012

VOU RIFAR MEU VIOLÃO


“Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” – João 8.36

É, o poeta estava mesmo em crise. Transtornado, tomou uma decisão radical: “Mudei de ideia vou rifar meu violão”. Vou tomar outro rumo na vida, porque o amor não correspondido, pra quem só sabe dizer a paixão musicando, dá nisso. Só que é fácil quando a mudança de ideia só tem como resultado um violão a menos. Daí uma aluna, jovem senhora, esposa de pastor sem igreja, com quinze anos de vida conjugal, depois de ter-me dito que estava felicíssima por estudar o Bacharel em Teologia, entrou na minha sala numa segunda-feira inesperada e disse: - Estou trancando a matrícula. Fiquei sem entender, mas pra abrir possibilidade de conversa, fiz o que sempre fazia: - Posso ajudar em alguma coisa? Ao que respondeu secamente: - Não. E continuou: - Meu pastor me disse que Teologia não é curso pra mulher. Bastou uma semana, e o sonho de menina e uma possível vocação, vitimada pelo gênero, seria sepultado naquela noite comum, e eu não pude fazer nada. Poderia ter dito a ela que, se depois de dez ou vinte anos tal pastor mudasse de ideia, ela teria perdido todo o tempo, que é mais, muito mais importante que um violão. Não disse isso, por uma questão de ética.

E viva a liberdade! Você segue por medo, respeito e submissão as determinações aparentemente seguras e que serão, perpetuamente, tidas e havidas, como a expressão da verdade, daí um dia quem você seguia olha e lhe diz: - Mudei de ideia. Mas como mudou de ideia? É, mudei de ideia. Hoje não penso mais do mesmo modo, estou revendo alguns princípios. Como assim? Você sempre disse que as pessoas precisam ser firmes, não mudam de ideia nunca, andam sempre numa única direção, e fazia até um gesto com a mão mostrando para onde deveríamos ir. Agora diz isso? O que faço com os trinta anos perdidos? Construí parte do que sou com base no que me disse. Transferi a minha liberdade pra você e deixei que tomasse conta dela, afirmando o que era certo, o que era errado, como proceder assim; segui a cartilha, apliquei ponto por ponto mesmo não dando muito certo, mas afinal era a sua autoridade, sabedoria e bom senso que me dizia o que fazer e fiz. Agora me diz que mudou de ideia? De que jeito? Sinto muito, só sei que mudei de ideia. Boa noite, passe bem, até outro dia!

E Jesus reuniu as criancinhas e disse algo como: Isso sim é que é vida! Olhou para os adultos e recomendou que se livrassem de todo o emaranhado que os aprisionava. Mostrou a eles que no Reino de Deus só cabem crianças. Por conta de tudo, principalmente pureza e liberdade, porque vão vivendo como se o tempo pudesse ser eternizado no presente. Sabiam juntar vida, santidade e liberdade, na dependência direta e única com o pai, e tudo na brincadeira. Pai com quem Jesus conversava, suplicava, dependia e se entregava. Nada o aprisionou, nem a cabeça das pessoas, nem nunca o pecado. Um dia libertou-se da vida e depois, da morte. Foi embora. Retornou. Livre, incompreensivelmente livre, tão livre que teve que subir e se livrou da lei da física e do tempo. E todos ficaram olhando e pensando: - Como pode ser isso?

Isso é liberdade. Abraçar o que é correto por motivação e responsabilidade pessoal. Pensar, analisar, escolher e decidir; olhar, interpretar e entender o texto bíblico: e viva a liberdade de consciência. Tem também o sacerdócio real de todos santos, nenhum intermediário; quem fica no meio é que escraviza. Tudo para que o ser humano, você e eu, nos declarássemos diante de Deus como absolutamente livres.

pr. Natanael Gabriel da Silva

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