sábado, 14 de abril de 2012

O NASCIMENTO DO PERDÃO

“No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viu que a pedra estava revolvida.” – João 20.1

O perdão nasceu numa manhã de domingo, logo cedo, pouco depois da fúria da desumanidade humana, do beijo ridículo, de um julgamento religioso tosco e de um tribunal romano medíocre. Depois veio a morte, e ao terceiro dia, antes do Sol, uma nova luz brilhou e saiu pela porta do túmulo e se fez vida novamente, pra nunca mais morrer. Pronto, estava instituído, decretado e consumado: nascia o perdão.


Eu sei que você não irá concordar muito com isso e, de certo modo, talvez tenha razão. O perdão já existia desde os antigos. Não foi Isaías quem disse o ai de mim que vou perecendo porque sou uma pessoa impura, dentre impuros, e vi o Senhor? Não teve um ser celestial que tocou nos lábios dele e o perdoou para preservar-lhe a vida? É foi mesmo. E se não fosse o perdão, onde estaria Jonas? Onde estariam os moradores de Nínive?

Pois é, isso é verdade. Só que naquela manhã de domingo nascia o perdão do perdão. Isto é: “o” perdão. Antes era assim: faz uma coisa errada, um perdão, faz outra coisa errada, outro perdão, faz uma terceira coisa errada, outro perdão, e como a contagem é infinita, segue-se um perdão atrás do outro. Eu sei que já era bom, mas naquela manhã nascia um outro tipo de perdão, direto, contínuo, como se fosse uma linha. Como se fosse o tempo, sem interrupção. Quando você pensa que está no presente, o que pensou já é passado. Um momento ligado ao outro, e não tem um quadro a quadro. Não são imagens fotografadas e colocadas uma depois da outra pra dar a ilusão de filme. Nada disso. É contínuo mesmo. Perdão direto, que perdoou uma vez e continuou perdoando sempre. Você nem fez nada e o perdão já aconteceu. Perdão perene; é isso.

Pois é, nasceu naquele domingo, e a primeira coisa que fez foi superar os limites do humano, matou a morte. Sem ritos, sacerdotes, animais pros sacrifícios ou produtos da terra para a celebração. Esqueça tudo isso. O perdão agora era o que começaria tudo, não estava no final da corda ou do sofrimento. Lembra-se da sequência? Primeiro você peca e depois Deus perdoa? Não, o perdão já está pronto antes do pecado, e o arrependimento é uma forma de consciência e submissão, quebrantamento e entrega. O perdão agora está no ponto de partida, não de chegada. A pessoa nasce com Jesus pelo perdão, entrega a vida a Ele pela porta do perdão e entra no perdão. Daí vive numa espécie de corredor de perdão que dura a vida inteira. Caminha pelo perdão, respira pelo perdão e o perdão vai ficando tanto atrás como à frente, porque tudo é perdão, pisa nele, acima de você, lado direito e esquerdo, tudinho é só perdão. Você é sustentado por ele, envelhece nele, e quando chega ao fim, não acabou, porque a outra porta se abre para o tempo de Deus. Pronto, agora você não precisa mais de perdão, já está na presença do Pai.


Você pode chamar este perdão de Graça de Deus, Misericórdia de Deus, ou simplesmente Amor incompreensível de Deus, até porque não dá pra compreender mesmo. Um perdão que não descansa e nunca para. E foi assim que ele nasceu: numa manhã quando a vida foi recriada.

Pr. Natanael Gabriel da Silva

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