terça-feira, 17 de abril de 2012

O CHÃO COMO LIMITE

“Ponha a sua boca no pó; talvez assim haja esperança.” – Lamentações 3.29

Esperança, que no texto original literalmente significa “cabo”. Algo como a única corda onde se pode segurar para não cair no abismo. Um único fio, que não fica na encosta, mas no chão. Alguém deitado no chão, plano, agarrado num único fio pra se sentir seguro? Pois é, e com a boca no pó. Encostado no chão, corpo e rosto, e o socorro está para baixo.

Sempre li e gostei do olhar para os montes de onde virá o socorro, do Salmo 121. Olhar pra cima é clamar, olhar pra baixo é reconhecer que o Senhor é grande. E quando se coloca o rosto no chão, o que era grande fica maior, e o que já era pequeno, fica menor, entregue, largado, desesperançado e com movimentos limitados. Cansado de correr, cansado de andar, de esperar, de subir, e de falar, porque quem coloca a boca no pó não tem mais palavra, é pura entrega. Não tem pra onde ir, nem pra onde olhar, só pro chão, pro limite até onde um ser humano pode chegar por conta do sofrimento, causado por ele mesmo. O mais humano  está no abraçar o pó, símbolo de onde veio e para onde irá.

O que Jeremias recomendava, e recomenda em Lamentações, não é a depreciação do ser humano, mas sua submissão e entrega incondicional nas mãos de quem é o sustentador de todas as coisas. No pó o ser humano se dá como humano, e o Soberano é reconhecido como Senhor.

pr. Natanael Gabriel da Silva

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