terça-feira, 13 de setembro de 2011

NO SINGULAR E TRADUZIDA


"Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!" (Mateus 6.23b)

Desumanidade. Jesus lutou contra isso e parece incrível que tenha sido necessário. Não seria o religioso o espaço do perdão, misericórdia e aceitação do outro? Não seria o lugar da compreensão, do afeto e do bom trato? Não seria onde se dá a realização do ser humano por completo, sem qualquer tido de vaidade? Lugar do poder e da opressão, onde deveria ser exatamente o banimento destes? Se o poder, a opressão, a injustiça e o desamor passam a contaminá-la, haveria outro lugar a encontrá-los? Outro dia vi uma mulher bêbada e viciada na calçada e fiquei com a sensação de que a pureza havia se perdido. Não é um discurso sobre gênero, machismo ou coisa parecida, mas de filho, que vê na mulher e na maternidade a pureza da vida. Eu sei que é um imaginário construído, mas não consigo me livrar dele. Acho que determinadas pessoas deveriam ser impermeabilizados quanto ao mal, como as mães, porque o que se perde na maternidade não pode ser encontrado em nenhum outro lugar. É como a igreja, se a justiça e o afeto não estiveram nela, vão estar onde?

E foi assim que Jesus começou a ensinar e o fez quando afirmou que a justiça do ser humano, numa nova ordem, deveria exceder a dos fariseus, impiedosamente desumanos. Jesus denunciou isso. Andar com Ele é aprender a andar com o ser humano, caminhar duas milhas, ao invés de uma, uma é pouco e qualquer um faz, dar a outra face também, e o olhar lá de longe pra bem dentro dos olhos de quem negou a amizade, só pra quem é profundamente humano pra fazer. Depois disse a quem o negara: Pastoreia as minhas ovelhas. Pedro, você precisa aprender o que significa andar com gente. Não é Nietzsche, mas não seria um humano, demasiadamente humano? Ter gente que vai dizer que este discurso é humanista demais, mas depois que Deus criou o ser humano e ainda se fez homem, acho que podemos falar desse Deus humano que perdoa, acolhe, e que entende mais da vida humana que qualquer outro, por direito de criação e de cuidado.

Agora, quando a luz se dá como trevas, então as trevas ficam mais trevas ainda, e o superlativo de trevas não existe. Não é escuridão ou falta de luz. Você afasta as trevas analisando o que elas significam? Dá pra levá-las pro laboratório? Dá pra limpar com pano? Dá pra afastar como se fosse cortina e olhar pela janela? Dá não. Não tem porta, nem consistência. Não dá pra pegar, empurrar ou esconder. Nada. Só a luz é remédio para as trevas. Luz no singular e traduzida que se impõe às trevas no plural e enigmática, isso porque o Senhor só precisa de um e dissipa a imensidão, mais nada. Pois é, se a luz se foi contaminada e se tornar trevas, então não tem mais jeito. É como a maternidade, ninguém substitui ou faz remendo.

As trevas funcionam para luz, como a humanização em relação à vida com Deus. Um Deus humano que passou pelo jardim da agonia, tinha sangue e corpo a ponto de ser dependurado e ainda teve tempo de orar e pedir perdão em favor dos que cometiam tal atrocidade. Do começo ao fim, compreensão, afeto e amor. Se a igreja não for assim, então não restam mais esperanças e o céu será apenas fuga.

Pr. Natanael Gabriel da Silva

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