"Não há temor de Deus
diante de seus olhos” - Romanos 3.18
O que vê, não significa nada, porque o
Senhor não está em nada; nada fez, nada o representa e o vazio se mostra num
sem sentido. É como se o tudo fosse invisível, não há o belo, mas também não há
o trágico, não há a contemplação, não há o sentimento de pertencimento, só
solidão, o mergulho para dentro em busca dos mitos e símbolos que se encontram
na profundidade inacessível da razão, na direção do antes do conceito e do
pensamento, para o onde não se sabe o que poderia ser, pois emerge para a
compreensão como se fosse qualquer coisa e acaba por se tornar o que já se desejava
que fosse. Até Freud foi apanhado nesta armadilha, mas que tinha alguma coisa
que se dava como se fosse vontade, parece que tinha. E quem vai saber?
O que você vê, é o que vê? Ou o que vê é o
que gostaria de ver? Ou será que você só vê o que faz sentido? Fazer sentido é
encaixar o que está para além de si, com o que está a partir de si, ou
vice-versa. Daí o passeio pela rua, e só vê os automóveis, quem é apaixonado
por eles. Só vê casas, quem está a construir. O que não faz sentido é
invisível. Então não se vê as pessoas, e quando são vistas, não têm rosto, e
quando têm rosto não têm nome, e quando têm rosto e nome poderá ser um notado e
percebido, merece uma conversa, uma lembrança e uma memória, daí naquele dia o
sentido do que estava dentro, fez conexão com o sentido que estava fora, e os
dois se uniram num universo como se fosse uma coisa só. Conversa vai, conversa
vem, às vezes sem conteúdo em razão do tempo e distanciamento, mas valeu a pena
ter visto aquele, ou aquela que jamais fora encontrado, ou encontrada, desde há
muito.
Então é assim, e quando não se vê Deus nas
ruas, ele não está em lugar nenhum, não há conexão, nem sentido para uma
conversa com um velho amigo. Não é que haja um dentro e outro fora, nem que
haja um fora e outro dentro, a questão é a conexão e o sentido, porque Ele está
tanto dentro, como fora, e um vazio dele, é um vazio de ausência de conexão e
sentido. Olha, mas não vê. Ou não é importante, ou não tem rosto, ou não tem
nome, ou não tem tudo isso junto ao mesmo tempo. Talvez seja ainda o
esquecimento de quem se acostumou com o que não deveria ter se acostumado, e
perdeu o espanto, quem sabe a paixão, ou ainda a multiplicação da miséria, que
ao invés de fazer ver mais, ocasionou o ver menos, e desconectou porque a injustiça
está do mesmo lado da moeda que faz afastar a esperança. Impera-se o caos, e
caos é falta de sentido.
Só que tudo isso não é o fim. Nem o começo.
É apenas condição de se dar como ser humano e tem cura apenas como caminho, ou
seja, não se cura para caminhar, mas purga-se pelo caminho, com ou sem
sofrimento. É a conexão e que faz a emenda para a completude. O temor entra
como profundidade de compreensão e sentido, e não o inverso. O que é isso? É a
vida. São os olhos.
Natanael Gabriel da Silva
Nenhum comentário:
Postar um comentário