quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

É A VIDA. SÃO OS OLHOS.


"Não há temor de Deus diante de seus olhos”  - Romanos 3.18 

O que vê, não significa nada, porque o Senhor não está em nada; nada fez, nada o representa e o vazio se mostra num sem sentido. É como se o tudo fosse invisível, não há o belo, mas também não há o trágico, não há a contemplação, não há o sentimento de pertencimento, só solidão, o mergulho para dentro em busca dos mitos e símbolos que se encontram na profundidade inacessível da razão, na direção do antes do conceito e do pensamento, para o onde não se sabe o que poderia ser, pois emerge para a compreensão como se fosse qualquer coisa e acaba por se tornar o que já se desejava que fosse. Até Freud foi apanhado nesta armadilha, mas que tinha alguma coisa que se dava como se fosse vontade, parece que tinha. E quem vai saber? 

O que você vê, é o que vê? Ou o que vê é o que gostaria de ver? Ou será que você só vê o que faz sentido? Fazer sentido é encaixar o que está para além de si, com o que está a partir de si, ou vice-versa. Daí o passeio pela rua, e só vê os automóveis, quem é apaixonado por eles. Só vê casas, quem está a construir. O que não faz sentido é invisível. Então não se vê as pessoas, e quando são vistas, não têm rosto, e quando têm rosto não têm nome, e quando têm rosto e nome poderá ser um notado e percebido, merece uma conversa, uma lembrança e uma memória, daí naquele dia o sentido do que estava dentro, fez conexão com o sentido que estava fora, e os dois se uniram num universo como se fosse uma coisa só. Conversa vai, conversa vem, às vezes sem conteúdo em razão do tempo e distanciamento, mas valeu a pena ter visto aquele, ou aquela que jamais fora encontrado, ou encontrada, desde há muito. 

Então é assim, e quando não se vê Deus nas ruas, ele não está em lugar nenhum, não há conexão, nem sentido para uma conversa com um velho amigo. Não é que haja um dentro e outro fora, nem que haja um fora e outro dentro, a questão é a conexão e o sentido, porque Ele está tanto dentro, como fora, e um vazio dele, é um vazio de ausência de conexão e sentido. Olha, mas não vê. Ou não é importante, ou não tem rosto, ou não tem nome, ou não tem tudo isso junto ao mesmo tempo. Talvez seja ainda o esquecimento de quem se acostumou com o que não deveria ter se acostumado, e perdeu o espanto, quem sabe a paixão, ou ainda a multiplicação da miséria, que ao invés de fazer ver mais, ocasionou o ver menos, e desconectou porque a injustiça está do mesmo lado da moeda que faz afastar a esperança. Impera-se o caos, e caos é falta de sentido. 

Só que tudo isso não é o fim. Nem o começo. É apenas condição de se dar como ser humano e tem cura apenas como caminho, ou seja, não se cura para caminhar, mas purga-se pelo caminho, com ou sem sofrimento. É a conexão e que faz a emenda para a completude. O temor entra como profundidade de compreensão e sentido, e não o inverso. O que é isso? É a vida. São os olhos. 

Natanael Gabriel da Silva

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário