quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

DESPLANEJAMENTO



“O Reino dos céus é semelhante ao...”

É isso mesmo, Mateus 13. Faça a leitura de todo o texto, e você irá encontrar, dentre tantas outras coisas, o desplanejamento. Eu sei que o discurso de Jesus está imbricado no imaginário campesino do Reino do Norte. E na época do levando e conduzindo a vida pela natureza, numa teoria cíclica da história, o que vale é o inusitado como espanto e esperança.

O desplanejamento é um problema em tempos de estratégias e investimentos só naquilo que vale a pena. Antes do antes já se deve saber onde se deve chegar, quais os meios para alcançar os objetivos e, no final, fazer a avaliação dos resultados. Quem conseguiu, fica. Quem não, fora. Isso é válido para empresas e igrejas, estas cada vez mais próximas das fábricas que dos campos, engolidas pelos Tempos Modernos e parte do mercado de consumo dos bens religiosos. Negocia-se de tudo, e qualquer coisa, especialmente gente, e o mercado se abre pelos métodos de convencimento, estratégias e ações, programadas, reprogramas, revistas e aos poucos vai se melhorando no distanciamento, e daí quando alguém pergunta que igreja é essa, a gente recomenda ler “1984” de George Orwell.

Pois é, nas parábolas não tem planejamento. Você vai me dizer que para o semeador sair a semear ele precisaria de, no mínimo, estabelecer algumas metas, e eu vou lhe responder que é por essa razão que há uma diversidade de parábolas. É um semeador que sai a semear em qualquer canto, pra quem quer que seja, para onde o vento leva; braços largos, soltando com maestria a nuvem de pequenos grãos, não se incomodando com as aves, nem onde as sementes irão cair, porque se fosse hoje, ah, meu amigo, se fosse hoje ia ter gente passando próximo ao semeador e achando um absurdo ele estar jogando semente fora, deveria programar, colocar uma por uma, pois é melhor uma semente no lugar certo, exato, e isto dá pra planejar, aquela que já se sabe que irá vingar, do que uma braçada inteira de centenas de sementes que não vão chegar a lugar nenhum. Mas que semeador descuidado! Tem emprego pra ele? Deveria primeiro analisar o solo, o vento, controlar as aves; mas sai jogando sementes, como se as jogasse fora!


E o grão de mostarda? O inesperado grão de mostarda que cresce sozinho sem programação ou planejamento? Porque vai crescer, de um modo ou de outro, e quando o planejamento estratégico dos que queriam arrancar o joio é acertado, o dono diz, nada disso, sem alvos de limpeza, porque isso não se faz desse modo, e o ser humano, com planejamento e tudo, não conhece nada do que seja a vida e confunde uma coisa com outra, a outra com a coisa, faz o que não deve, e o planejamento não funciona, porque a vida não pode sequer ser reconhecida com precisão, está entrelaçada pelas raízes do que você não pode ver, e quando pensa que está fazendo uma coisa, faz outra, não adianta fazer isso, crescer e achar que isso é o Reino, quando é exatamente o contrário.

Depois, o Reino mesmo, é como um tesouro escondido que ninguém planejou encontrar, ninguém nem sabia que havia tesouro, e o sujeito vai e tropeça nele, estava ali e ele não sabia; ou ainda como uma pérola, que o negociante só tinha notícia por sonho e fantasia, só existia no imaginário da idealização; e não é que o cara se dá com a tal pérola? Única, perfeita, por acaso, sem planejamento, apenas com o sonho de um dia poder estar diante dela, embora ele mesmo não acreditasse muito nisso. Imagine o espanto! E o fermento? Dá pra planejar quanto vai render? Dá pra saber qual a qualidade de peixe que a rede vai trazer?

Então é assim, joga-se aqui, tropeça-se ali, um sonho é encontrado pelo caminho, noutro momento a vida cresce e vira outra coisa, o fermento vai até onde dá pra ir, depois termina no terminado. Joga-se também a rede e pronto, e não adianta dizer que a rede foi jogada a noite inteira e nada de peixe, porque quem conhece diz, lança de novo, do outro lado, e seu papel é só lançar, é a única coisa que você sabe fazer, então faça, e o pescador, que sabia tudo de pesca, joga só pra dizer que quem disse estava errado, mas não há de ver que a noite ruim de pescaria se transforma na grande pesca? Tão grande que seria a última, de Pedro é claro; depois quis ser pescador de novo, mas não deu certo, foi quando ele planejou o “vou pescar” e não pescou coisa nenhuma.

Por quê? Ora, porque “Abrirei em parábolas a sua boca; multiplicarei coisas ocultas desde a criação do mundo.” (Mateus 13.35) O mistério faz parte do desplanejamento, pertence ao mundo do espanto, se dá como possível esperança, mas ninguém sabe quando e se irá se deparar com ele; e não há planejamento estratégico capaz de fazê-lo se manifestar. Sequer dá pra avaliar os resultados. No Reino, o nosso papel, é um ir fazendo sempre, só isso.


Natanael Gabriel da Silva

Um comentário:

  1. Pr.Natabael...Mechendo com meu cérebro e coração como sempre....minha admiração pelo pr. Aumenta em cada pregação q tenho oportunidade de ouvi-las ou ler-las...Deus abençoe o Pr.e a sua família.

    ResponderExcluir