“O Reino dos céus é semelhante ao...”
É isso mesmo, Mateus 13. Faça a leitura de todo o texto, e
você irá encontrar, dentre tantas outras coisas, o desplanejamento. Eu sei que
o discurso de Jesus está imbricado no imaginário campesino do Reino do Norte. E na época do levando e conduzindo a vida pela natureza, numa teoria cíclica da
história, o que vale é o inusitado como espanto e esperança.
O desplanejamento é um problema em tempos de estratégias e
investimentos só naquilo que vale a pena. Antes do antes já se deve saber
onde se deve chegar, quais os meios para alcançar os objetivos e, no final,
fazer a avaliação dos resultados. Quem conseguiu, fica. Quem não, fora. Isso é
válido para empresas e igrejas, estas cada vez mais próximas das fábricas que
dos campos, engolidas pelos Tempos Modernos e parte do mercado de consumo dos
bens religiosos. Negocia-se de tudo, e qualquer coisa, especialmente gente, e o
mercado se abre pelos métodos de convencimento, estratégias e ações,
programadas, reprogramas, revistas e aos poucos vai se melhorando no distanciamento,
e daí quando alguém pergunta que igreja é essa, a gente recomenda ler “1984” de
George Orwell.
Pois é, nas parábolas não tem planejamento. Você vai me
dizer que para o semeador sair a semear ele precisaria de, no mínimo,
estabelecer algumas metas, e eu vou lhe responder que é por essa razão que há
uma diversidade de parábolas. É um semeador que sai a semear em qualquer canto,
pra quem quer que seja, para onde o vento leva; braços largos, soltando com
maestria a nuvem de pequenos grãos, não se incomodando com as aves, nem onde as sementes irão
cair, porque se fosse hoje, ah, meu amigo, se fosse hoje ia ter gente passando
próximo ao semeador e achando um absurdo ele estar jogando semente fora,
deveria programar, colocar uma por uma, pois é melhor uma semente no lugar
certo, exato, e isto dá pra planejar, aquela que já se sabe que irá vingar, do que
uma braçada inteira de centenas de sementes que não vão chegar a lugar nenhum. Mas
que semeador descuidado! Tem emprego pra ele? Deveria primeiro
analisar o solo, o vento, controlar as aves; mas sai jogando sementes, como se as
jogasse fora!
E o grão de mostarda? O inesperado grão de mostarda que
cresce sozinho sem programação ou planejamento? Porque vai crescer, de um modo
ou de outro, e quando o planejamento estratégico dos que queriam arrancar o
joio é acertado, o dono diz, nada disso, sem alvos de limpeza, porque isso não
se faz desse modo, e o ser humano, com planejamento e tudo, não conhece nada do
que seja a vida e confunde uma coisa com outra, a outra com a coisa, faz o que
não deve, e o planejamento não funciona, porque a vida não pode sequer ser
reconhecida com precisão, está entrelaçada pelas raízes do que você não pode
ver, e quando pensa que está fazendo uma coisa, faz outra, não adianta fazer
isso, crescer e achar que isso é o Reino, quando é exatamente o contrário.
Depois, o Reino mesmo, é como um tesouro escondido que
ninguém planejou encontrar, ninguém nem sabia que havia tesouro, e o sujeito
vai e tropeça nele, estava ali e ele não sabia; ou ainda como uma pérola, que o
negociante só tinha notícia por sonho e fantasia, só existia no imaginário da
idealização; e não é que o cara se dá com a tal pérola? Única, perfeita, por
acaso, sem planejamento, apenas com o sonho de um dia poder estar diante dela,
embora ele mesmo não acreditasse muito nisso. Imagine o espanto! E o fermento? Dá
pra planejar quanto vai render? Dá pra saber qual a qualidade de peixe que a
rede vai trazer?
Então é assim, joga-se aqui, tropeça-se ali, um sonho é
encontrado pelo caminho, noutro momento a vida cresce e vira outra coisa, o fermento
vai até onde dá pra ir, depois termina no terminado. Joga-se também a rede e
pronto, e não adianta dizer que a rede foi jogada a noite inteira e nada de
peixe, porque quem conhece diz, lança de novo, do outro lado, e seu papel é só
lançar, é a única coisa que você sabe fazer, então faça, e o pescador, que
sabia tudo de pesca, joga só pra dizer que quem disse estava errado, mas não há
de ver que a noite ruim de pescaria se transforma na grande pesca? Tão grande
que seria a última, de Pedro é claro; depois quis ser pescador de novo, mas não
deu certo, foi quando ele planejou o “vou pescar” e não pescou coisa
nenhuma.
Por quê? Ora, porque “Abrirei em parábolas a sua boca;
multiplicarei coisas ocultas desde a criação do mundo.” (Mateus 13.35) O
mistério faz parte do desplanejamento, pertence ao mundo do espanto, se dá como
possível esperança, mas ninguém sabe quando e se irá se deparar com ele; e não
há planejamento estratégico capaz de fazê-lo se manifestar. Sequer dá pra
avaliar os resultados. No Reino, o nosso papel, é um ir fazendo sempre, só isso.
Natanael Gabriel da Silva
Pr.Natabael...Mechendo com meu cérebro e coração como sempre....minha admiração pelo pr. Aumenta em cada pregação q tenho oportunidade de ouvi-las ou ler-las...Deus abençoe o Pr.e a sua família.
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