sexta-feira, 19 de outubro de 2012

BEM-AVENTURADOS OS QUE TÊM FOME E SEDE DE JUSTIÇA


“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos.” – Mateus 5.6

Essa é a bem-aventurança do sofrimento consciente. Quando Mateus escreveu o texto, os cristãos sofriam mais que uma perseguição religiosa: se tornara política. É, perseguição política, ninguém merece. Vem com a força do poder e deixa de ser horizontal, onde residem os credos populares construídos no cotidiano, e se verticaliza na brutalidade e desumanidade dos dogmas ou das leis. Aí não há muito a ser feito, porque as armas do poder são exatamente aquelas que, rejeitadas, nos tornam cristãos. Foi por essa razão que Jesus, em muitas ocasiões, saiu de cena e quando foi pra Jerusalém e entrou no ringue com o poder religioso e político, sabia que perderia. Só que não perdeu, porque nem o poder político, nem o religioso, esperavam uma ressurreição. Tem sempre um milagre para além do poder, e que este não pode ver, porque não tem instrumento pra isso. O poder só sabe olhar pra baixo.

Pois é, um sofrimento insuperável, mas também a consciência de que tal sofrimento era injusto. Não é fácil separar a fome e a sede de justiça da vingança e só quem as possui é capaz de avaliar entre umas e outra. Um meio-fio que faz diferença, porque quem tem o desejo de vingança é um infeliz. Não sabe quem é. Não enxerga o outro, nem a si. Tem ódio, não amor. Tem o desejo de fazer o outro sofrer, mas não que a justiça de fato prevaleça. É apenas um beligerante perdedor. Um destruidor, porque não quer que a justiça seja construída, quer apenas a demonstração de que, de algum modo, ele estava certo. Quem tem fome e sede de justiça não se preocupa em demonstrar que o mal sobre o outro é importante pra provar a própria retidão. Não, não tem. Quando a justiça vem sobre o outro, quem tem fome e sede de justiça, chora o sofrimento de quem um dia o fez sofrer. Não há alegria, do mesmo modo que não houve quando Jesus, na cruz, suplicou o perdão para quem o agredia por falta de conhecimento do que estava sendo feito. Jesus foi feliz em dizer isso, mas não o fez com felicidade.

Então, se você for capaz de sofrer de forma consciente a injustiça que lhe foi imposta, e depois sofrer de novo por conta da justiça que recaiu sobre quem o fez sofrer, será um/a bem-aventurado/a. Feliz mesmo, muito feliz. Porque ser vingativo e beligerante, em nome de Deus ou de qualquer poder, qualquer um pode. Agora, recolher-se no silêncio e chorar duas vezes, é só para quem tem um coração singular. Um coração bem-aventurado.

pr. Natanael Gabriel da Silva

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