“Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados” –
5.4
As bem-aventuranças semeiam esperança. Você pode optar por
um espírito de amor, se recolhendo numa atitude de completa ausência de reação,
e se dar como um pobre de espírito. Um pobre que herdará um Reino. E herdar
aqui, é herdar mesmo, receber sem nunca ter merecido, nem programado. Apenas
receber. Não será pobre de espírito numa condição sem fim, e num dado momento
herdará um Reino, que não pode ser mensurado, e não é um Reino no sentido do
poder, nem necessariamente rico. É só um Reino, e o mais próximo que se possa
compreender, é que será dos céus.
Quem chora, também não vai chorar pra sempre, mas há de
aprender a suportar o tempo de angústia, porque sofrer faz parte da vida. Chorar
também é difícil. Tão difícil como ser pobre de espírito, porque chorar é
recolher-se. É um estar ensimesmado, viajando pra dentro de si, um purgar a
injustiça como forma de libertação. É um cuidar-se e praticar a terapia da
própria alma. Não é inferioridade, nem autocomiseração, muito menos o ser
reconhecido/a pelo sofrimento. Não está relacionado ao gerar comoção pra se
tornar alguém. É apenas canalizar a agressão e submeter o desejo de morte ao
controle da vontade, e optar pela própria dor, do que causar a dor no outro. E
quando Mateus escreveu isso, o tempo era de perseguição e morte. Não era
possível resolver nem a perseguição, nem a morte, mas havia uma terceira via. E
a terceira via, bem a terceira via, é para poucos. É a via pra dentro, do
silêncio e da esperança. Difícil, muito difícil, mas se você conseguir será
um/a bem-aventurado/a. Porque o consolo será infinito e mais intenso que a dor,
e a presença de quem consola e cuida, será incomparavelmente mais forte que a
tragédia.
Não é uma questão de vitória, nem de querer afirmativamente
determinar que, algum dia, quem faz sofrer colherá, finalmente, o próprio dano.
Nada disso. É apenas esperar o afago. É também querer que um dia, quem fez
sofrer, também encontre a mesma paz e o mesmo abrigo, e se torne parceiro/a do
favorecimento. Eu sei que isso é difícil, mas muito difícil. Agora, se
conseguir, você será muito feliz, feliz mesmo, um/a bem-aventurado/a.
Pr. Natanael Gabriel da Silva
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