sexta-feira, 16 de março de 2012

TORNAR-SE HUMANO



“Darei a vocês um coração novo e porei um espírito novo em vocês, tirarei de vocês o coração de pedra e lhes darei um coração de carne.” Ezequiel 36.26

O coração de pedra é ensimesmado, só olha pra dentro. Não é modificado com o que contata e permanece sendo sempre o mesmo. Essa é uma das razões pelas quais a síndrome da Gabriela deve ser vista com precaução: Eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim. Eu sei que Dorival Caymmi deu um sentido diferente à sua poesia, mas a petrificação e a mesmice levam ao fechamento da vida para o mundo, de tal modo que o outro nada tira, mas também nada acrescenta. Quem se aprisiona em seu próprio mundo, se defende dele, mas também irá olhá-lo sempre pelo buraco da fechadura: o que passa pela frente dá pra ver, o resto não existe.

Agora, o coração de carne, é um problema. Não tem a resistência do primeiro, é humano, tem prazo de validade e não consegue se defender das agressões e dos medos. Mas o que seria da vida se não fossem os medos? O que seria da vida se não fossem as dores? Seríamos o quê? “O quê” mesmo, porque é o coração de carne que nos transforma em “quem”. Ele dá identidade, porque a pedra massifica, torna todo mundo com a mesma cara macilenta e sem expressão. Pois é, quem tem o coração de carne, luta para ter mais resistência, e não consegue. Quem tem um coração de pedra, às vezes, nem sabe que possui um.

Ninguém sabia nada disso, até que Ezequiel deu a informação: tem outro tipo de coração, porque existe outra forma de se viver. É como se fosse necessária uma recriação, não um transplante. Não simplesmente trocar um pelo outro, mas mudar a resistência, fragilizar a vida petrificada e ser, apenas, humano. Parece que não, mas tornar-se humano, humano mesmo, é o caminho para se ouvir a voz de Deus. E só ele é capaz de fazer isto: humanizar a mesmice da tragédia humana num novo sentido para se viver.

pr. Natanael Gabriel da Silva


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