quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

O COMEÇO DO FUTURO




“Por isso, eu te glorificarei entre os gentios e cantarei louvores ao teu nome.” – Romanos 15.9b,c.

O começo do futuro é a profecia, reinterpretada, é claro, porque Paulo podia fazer isso, mesmo com todo literalismo que fazia parte de sua hermenêutica. O texto de Romanos 15.9 em sua parte final é uma repetição de 2 Samuel 22.50 e Salmo 18.49. Só que lá, o sentido era outro. Era o da vitória, a celebração da decadência e queda das outras nações, e o grito é de posse, isto é, o estar presente no miolo, bem no centro do domínio das outras nações, o lugar mais protegido e difícil de ser alcançado, e lá, justamente lá, celebrar a vitória por conta da derrota e massacre. Trata-se do grito da derradeira conquista, a queda da última resistência, quando a nação inimiga se rendia, acabada e destruída, e a celebração vinha na trilha da alegria pela morte. Começava então o despojo.

Paulo faz um contrabando do mesmo texto à hermenêutica cristã e o torna no grito de vitória onde todos se dão como vencedores. Eu sei que é triunfal, mas se eu perguntar pra você qual a expressão, ou quais expressões, seriam as mais importantes do texto acima, você irá dizer que é o “te glorificarei” e/ou “cantarei louvores ao teu nome”, e certamente vai se esquecer do miolo, do lugar do grito da vitória, do onde eu, Paulo, estarei fazendo tudo isso, e o lugar é o do banimento e exclusão. Vou estar no meio, bem no centro, no espaço geográfico mais escondido, bem no meio da cultura e vida do mundo gentílico, dos sem-Deus, dos banidos pela comunidade religiosa da época, dos inimigos, no meio dos sem esperança, porque lá é o meu lugar. E lá vou celebrar a conquista do coração deles, vou dizer que Deus pertence a eles também, que o banimento e a exclusão é só uma questão de interpretação, e que a terra dos sem-Deus se conquista com a presença e celebração, com ou sem ameaça ou perseguição, apenas estar lá onde todos pensam que Deus não entra. E Deus entra, ora se entra, na verdade sempre esteve, mas eu indo é como se O estivesse levando, e você sabe o que vou fazer lá, bem no miolo, no centro do que tem sido banido e excluído, do desprezado, daquele que é nascido literalmente no pecado como se nunca mais pudesse ter qualquer solução, sabe o que eu vou fazer lá? Vou glorificar o nome do Senhor com eles, e cantar louvores, porque entre nós e eles não há conquistadores e conquistados, apenas os que nos rendemos e abraçamos a esperança, a alegria e a paz: “E o Deus da esperança vos encha de toda a alegria e paz no vosso crer, para que sejais ricos de esperança no poder do Espírito Santo”. (15.13) Não será irônico e não haverá despojo, apenas Graça.

Só isso.

Natanael Gabriel da Silva

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