“Por isso, eu te glorificarei entre os gentios e cantarei
louvores ao teu nome.” – Romanos 15.9b,c.
O começo do futuro é a profecia, reinterpretada, é claro,
porque Paulo podia fazer isso, mesmo com todo literalismo que fazia parte de
sua hermenêutica. O texto de Romanos 15.9 em sua parte final é uma repetição de
2 Samuel 22.50 e Salmo 18.49. Só que lá, o sentido era outro. Era o da vitória,
a celebração da decadência e queda das outras nações, e o grito é de posse, isto
é, o estar presente no miolo, bem no centro do domínio das outras nações, o
lugar mais protegido e difícil de ser alcançado, e lá, justamente lá, celebrar
a vitória por conta da derrota e massacre. Trata-se do grito da derradeira
conquista, a queda da última resistência, quando a nação inimiga se rendia,
acabada e destruída, e a celebração vinha na trilha da alegria pela morte.
Começava então o despojo.
Paulo faz um contrabando do mesmo texto à hermenêutica
cristã e o torna no grito de vitória onde todos se dão como vencedores. Eu sei
que é triunfal, mas se eu perguntar pra você qual a expressão, ou quais
expressões, seriam as mais importantes do texto acima, você irá dizer que é o “te
glorificarei” e/ou “cantarei louvores ao teu nome”, e certamente vai se
esquecer do miolo, do lugar do grito da vitória, do onde eu, Paulo, estarei
fazendo tudo isso, e o lugar é o do banimento e exclusão. Vou estar no meio,
bem no centro, no espaço geográfico mais escondido, bem no meio da cultura e vida
do mundo gentílico, dos sem-Deus, dos banidos pela comunidade religiosa da
época, dos inimigos, no meio dos sem esperança, porque lá é o meu lugar. E lá
vou celebrar a conquista do coração deles, vou dizer que Deus pertence a eles
também, que o banimento e a exclusão é só uma questão de interpretação, e que a
terra dos sem-Deus se conquista com a presença e celebração, com ou sem ameaça
ou perseguição, apenas estar lá onde todos pensam que Deus não entra. E Deus
entra, ora se entra, na verdade sempre esteve, mas eu indo é como se O
estivesse levando, e você sabe o que vou fazer lá, bem no miolo, no centro do
que tem sido banido e excluído, do desprezado, daquele que é nascido
literalmente no pecado como se nunca mais pudesse ter qualquer solução, sabe o que
eu vou fazer lá? Vou glorificar o nome do Senhor com eles, e cantar louvores,
porque entre nós e eles não há conquistadores e conquistados, apenas os que nos
rendemos e abraçamos a esperança, a alegria e a paz: “E o Deus da esperança vos
encha de toda a alegria e paz no vosso crer, para que sejais ricos de esperança
no poder do Espírito Santo”. (15.13) Não será irônico e não haverá despojo,
apenas Graça.
Só isso.
Natanael Gabriel da Silva
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