Eu sei que você, lendo Isaías 40, o primeiro texto do chamado
Segundo Isaías, vai lê-lo como promessa. E é.
Hoje eu li Isaías 40. 1 a 12 assim:
Meu povo precisa de
consolação e conforto, pois é chegado o sofrimento no seu limite. Já sofremos demais,
muito além do que poderia ser em razão dos nossos pecados, que também são muitos.
É muito sofrimento vindo da mão do Senhor, o que torna o socorro quase
um vazio de sentido, pois a fonte da provisão é de onde brota também a dor. Daí
a voz clamando no deserto, o mesmo deserto da libertação e presença, abrindo o caminho para o nosso Deus poder vir, talvez para ver
o quanto sofremos, talvez para mostrar o quanto nos rendemos e nos humilhamos ao convidar aquele que nos faz sofrer para ser o também o libertador;
pois afinal é como se o sofrimento, no seu limite, fosse agora aceito e
reverenciado. E tudo ficará planificado, os montes e colinas rebaixados, os
vales nivelados, abertos para o Senhor passar, ou para abrir o horizonte para ser visto, por
detrás dos montes, além do que pode ser alcançado, e ver na imensidão a glória do
Senhor, desde longe, onde a terra e o céu se encontram, misturando assim o
humano e o divino, o divino e o humano, quando sofrimento e esperança acabam por se juntar,
tudo ao mesmo tempo e no mesmo lugar. Assim nos submetemos, tanto ao
sofrimento, quanto à esperança do livramento, tanto à incompreensão da dor que
se dá como ter ido além, como a esperança que não sabemos como será; só sabemos
que é esperança sem fim, como o horizonte. E vem o clamor, mas que clamor? O clamor da
humilhação, da pequenez, da fragilidade e confissão: somos relva, estamos no chão
do chão, somos como flores no deserto, fragilizados pela seca e que não suportamos mais o vento do sofrimento, e mesmo que venha, a esperança permanece para
sempre, porque ela segue a trilha da promessa, que veio do deserto, desde a libertação, desde quando tudo teve início, com direito a maná e águas doces. Um deserto que não tinha nada, e teve tudo, essa é a trilha da promessa. Então voz do que clama pelo deserto,
e voz que não sabe o que clamar, mensageiro de Sião, suba num monte bem alto,
levanta e grite para todos ouvirem, não tenha medo, porque o sofrimento não pode
banir a esperança, e diga às todos que também não tenham medo, apesar do medo. Aponte
e indique: Aqui está o vosso Deus. Mostre o deserto planificado, aponte para o
infinito que não pode ser compreendido, e apresente a presença do nosso Deus que nos trouxe pelo deserto trazendo consigo a esperança, mesmo sem saber direito como será, e, no meio do sofrimento
dobrado, diga que Ele virá, ora se virá, de um modo de outro virá, e tem o
braço forte, trará consigo a graça, o cuidado como quem pastoreia o seu rebanho
e vai nos agasalhar, como quem nos pega no colo, e nos fartará das primícias da
vida, como se nos desse o primeiro leite, e nos guiará com a mansidão do pastor
que sabe ensinar e conduzir, como ninguém, a vida pelo caminho. Quem sustentou a vida pelo deserto, saberá sustentar a mesma vida no meio do sofrimento.
Talvez seja, o canto do profeta, triste; de quem não
reprova o sofrimento de profundidade doída e dobrada, e reserva para si, não a esperança da cura e da dor que não pode ser apagada.
É apenas humilhação, rendição e presença de um Deus, em quem, no horizonte, sofrimento e esperança se juntam. É só aplainar a vista que dá pra ver.
Natanael Gabriel da Silva
Excelente leitura meu amigo! Ha um sentido na verdade que é loucura para a lógica humana e sempre será um escândalo religioso! Abraços.
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