(ao meu pastor, Laurencie Salles Coelho)
“Jesus disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas” João 21.17d
Eu sei que você não conhece esta expressão, mas estou
tomando emprestada de Milton SCHWANTES, em sua referência a Amós, afirmando que
ele não era profeta, mas profetizador, porque não estava vinculado a nada, não
dependia de quem quer que fosse, não fazia parte de qualquer escola de profetas,
e se opunha aos sacerdotes que tinham corrompido a religião, assim como
militares e todo sistema ligado a Jeroboão II. Um reinado opressor, que
expandiu o Estado, mas massacrou o povo, abriu as rotas comerciais e, por meio
delas, o Reino do Norte seria então conquistado. SCHWANTES sintetiza: “A
glória de Jeroboão foi o túmulo do povo.”
O pastoreador, seguindo o traçado de Amós e o exemplo de
Jesus, é um inconformado com a corrupção e manipulação da religião: condena sacerdotes,
escribas e fariseus, mas compreende o coração de uma sofrida mulher no poço de
Sicar, é capaz de abraçar crianças pelo caminho, corrigir a agressão de quem
ainda não havia entendido a linguagem do amor, como no caso de Pedro ferindo o
soldado, e poetar sobre a religiosidade no recanto das planícies, multiplicando
paz e solidariedade. O pastoreador não vê a carreira de pastorear como função,
porque não tem carreira. O pastoreador, pastoreia, não faz política com a
espiritualidade, e quando visita alguém na madrugada, não o faz para que este
se torne um eterno devedor. Faz porque tem que ser feito, porque o seu coração
é paixão, afeto e tem o dom do socorro. Não se conformaria, sem dúvida, com a
disposição executiva e administrativa, que fez do atual modelo de pastor um
gestor de negócios, pesquisador de planos estratégicos, e preocupado com
técnicas de crescimento de Igreja. O pastoreador, só pastoreia. Não sabe lidar
com negócios, o que em algumas comunidades poderia suscitar descrédito em sua
liderança. Não saber fazer isso é virtude, que nem sempre os consumidores da fé
compreendem. São estes os mesmos que consomem homilias, estudos, visitas, celebrações
e calendário de atividades, tornando o que deveria pastorear, um vigilante da
ética comunitária e o cumpridor de programas. O pastoreador não consegue lidar
com isso. É um excluído do sistema, e quando alguma comunidade necessita de
orientação e procura alguém que seja empreendedor, o pastoreador se exclui, pois
se é uma coisa que ele não sabe, e nunca saberá, é planejar o pastoreamento
declinando-o da vida, e o colocando nos números estatísticos de frequentadores
e fiéis.
A linguagem do pastoreador é feita de amor e graça. Não se
dá como porta-voz de um sistema, credo ou confissão, e sua mensagem tem origem
e destino. Não é uma proclamação que fica no caminho, na vida, êxtase e projeção
daquele que diz pastorear. O pastoreador assume que os ditos não são seus. O assim diz o Senhor em sua voz é vinculado ao destino do coração sofredor, aquele que precisa ser pastoreado. Sua
preocupação é com a libertação de quem se encontra oprimido pela vida, ou por
qualquer sistema, o que inclui a própria religião. Proclama esperança, sempre.
Acredita na renovação da vida, no fim das injustiças, na conscientização das
relações humanas pelo exercício da cidadania, no milagre da esperança em meio
ao caos, e principalmente, no resgate do ser humano em qualquer situação que se
encontre. É um sonhador. O pastoreador não desiste das pessoas, mas se afasta dos sistemas;
diz não ao preconceito e à segregação, compreende que o papel da mulher na
igreja não é o mesmo que na tribo. O pastoreador não é, está. Não tem título,
apenas ministério. Não pertence a lugar ou grupo nenhum, é apenas um errante
que dialoga com o humano.
A segurança e refúgio do pastoreador é a devoção; sua
profundidade, a mística; sua ética, a redenção; o lugar do seu discurso, o
Reino.
Natanael Gabriel da Silva
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