segunda-feira, 13 de agosto de 2012

REVOLUCIONARIAMENTE


"[O Reino de Deus] É semelhante a um grão de mostarda que um homem plantou na sua horta; e cresceu e fez-se árvore; e as aves do céu aninharam-se nos seus ramos.” – Lucas 13.19

Hoje vi um ipê-amarelo. Amarelo ouro e bem carregado. Ipê corajoso, na poética de Belchior: “Vêde o pé do ypê apenasmente flora/Revolucionariamente/Apenso ao pé da serra”. Nascido solitário ao pé da serra e você o vê de longe, como se fosse único e só ele desejasse ser árvore. É um revolucionário porque insiste na vida, meio de lado, de canto, de banda, secundário, mas floresce e se dá numa estética profética. Tente fazer como ele pra ver se consegue! É o descontrole da vida, como a pergunta do Chico aos ditadores e o que fariam estes quando o galo desejasse cantar: caçariam a letra?

Também acho que, a árvore do Reino, como o ipê de Belchior, é também revolucionário. Também é corajoso, porque pra ser plural, tem que ser grande. Abriga, abarca, recebe e protege as inúmeras aves do céu. Aves no plural, na diversidade, no colorido que embeleza e todos empoleirados abrigados no deserto que chamamos de vida. Não é uma árvore qualquer. É única porque nasceu onde não deveria ter nascido, cresceu um tanto que não poderia ter crescido e abriga tantas aves que só cabem porque é Reino de Deus, noutro lugar não caberiam. Um samba de uma nota só, que me desculpe o Tom Jobim, só foi possível fazer um. Uma nota só, única cor, forma de se crer, ou uniformidade invariável, não é símbolo de coragem, mas de imposição, de ditadura, regime fechado de comando porque é fácil de identificar o que está no descompasso. Agora, seja o ipê ao pé da serra, sofrido e solitário, que apenas existe, num mundo árido, ou a árvore do Reino, brotada no mesmo deserto, o que não lhes falta é coragem. No ipê ao pé da serra, solidão. Na árvore do Reino, a coragem de ser plural numa religiosidade desbotada. Daí é bom saber que é possível não ser igual para receber abrigo e proteção.

pr. Natanael Gabriel da Silva

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