quinta-feira, 9 de agosto de 2012

O ELO IRRESISTÍVEL


“Há muito que o Senhor me apareceu, dizendo: Com amor terno te amei; também com amável benignidade te atraí.” Jeremias 31.3

A resistência ao amor é incompreensível. No contexto narrado por Jeremias o amor era a única esperança. Promessa antiga. “Há muito...” dizia o profeta e ainda não era tempo dele ter a promessa nas mãos, mas isso não diminuía o amor, adjetivado pela gentileza e dissolvido na compaixão. No passado, considerava Jeremias, fui enlaçado por esse amor. Tornou-se irresistível, e se me perguntarem qual a razão da minha esperança, direi que é apenas o amor. É claro que o profeta conhecia a história, mas o que é a história quando os atores e personagens somos nós? Para que servirá o futuro, se os atores e personagens serão outros? Como se alegrar com a esperança que não fará parte da nossa história? É possível falar-se em esperança, quando outros a desfrutarão?

Só o amor faz isso. Eu sei que Jeremias se referia a um povo e a sua crença de que, de certo modo, ele mesmo viveria em outros como parte do futuro. Sei também que a sua palavra personificada não era só em relação a si, mas o amor coletivo, antigo, desde os tempos de Abraão e da quase lendária libertação do Egito. Mas não é interessante que, ao invés de mencionar a eleição em Abraão, Jeremias transita para o amor e ainda com ternura? Será que Jeremias fazia a transição da responsabilidade de Deus ter feito para si um povo, e ter que cuidar dele, para o amor como o elo irresistível?

É talvez, mas quem consegue explicar a profundidade do amor, sua natureza e esperança? Quem consegue justificar a razão de amar? Como pode alguém ser alcançado pelo amor e continuar indiferente? Seria possível um “amor instrumental”, sem ternura, por interesse ou medo? Um amor sem amor, que fala do amor e, ao mesmo tempo, dele se esconde? Seria possível um discurso de amor, apenas como discurso? Seria esse o amor que não gera esperança, mas medo, frustração e beligerância?

Não sei. Acho que só entendo como Jeremias: um dia um terno amor me alcançou. Amor foi gentil e afetuoso. Não sei o que ele significa. Só sei que me dá esperança, sem qualquer justificativa ou motivo. Acho que é por essa razão que é amor, senão seria outra coisa, não é mesmo?

pr Natanael Gabriel da Silva

Nenhum comentário:

Postar um comentário