“Em verdade vos digo: Quem não receber o reino de Deus como
uma criança de maneira nenhuma entrará nele.” – Marcos 10.15
Receber o reino como criança é não fazer o tipo de pergunta
que os fariseus tinham acabado de fazer (Marcos 10.2ss). Qual tinha sido a
pergunta? Sobre o divórcio. Na verdade sobre a extensão de uma doutrina, porque
parece que o profissional da religião, o estudioso da fé, só sabe perguntar por
estas coisas. Deseja saber como é isso, como é aquilo, como funciona este ou
aquele, ou onde está a verdade verdadeira, e para que a redundância fique
perfeita acrescenta: verdade verdadeira e absoluta.
Daí Jesus apanhou em seus braços as crianças que não
perguntaram sobre o divórcio, não sabem o que é o céu, sequer compreendem
direito quem é Deus, o que é a vida, o que se deve ou não fazer no sábado. As
crianças não perguntaram pela Graça, o que esta significaria e se teria extensão; nada sobre
predestinação, sete semanas de Daniel, quando e de modo iria acontecer o medo
libertador do apocalipse, se Jesus estava mesmo na origem de tudo, também não
perguntaram; se Deus é três pessoas que parecem quatro, mas é tido como se
fosse uma, também não. Nada sobre se Jesus e o Cristo são de fato as mesmas pessoas.
Nenhuma pergunta sobre milagres, nem mesmo sobre as sagas do Antigo Testamento.
Nada. Também não houve qualquer cura, ninguém levantando e carregando a própria maca, nem algum endemoniado restaurado ou leproso curado.
Nada. As crianças apenas se deixaram levar: primeiro por anônimos que não
aparecem no texto, finalmente do chão para os braços de Jesus. E, ao que parece pelo texto, o mundo de Jesus ficou reduzido aos pequeninos que o rodeava, como que fascinado por elas.
Só isso, simples, muito simples, com plasticidade, afeto,
resgate, muita vida e a promessa unilateral e inesperada, que não foi
pedida ou exigida, fosse por merecimento ou condição: “porque das tais é o
reino de Deus”.
Uns perguntam pelo divórcio, outros se deixam levar pelos
braços de Jesus. Cada um faz o que pode.
Natanael Gabriel da Silva
Muito legal o seu texto. Esses dias escrevi um (wwwibmi.blogspot.com) a partir do Evangelho de Mateus. Lá a perspectiva é outra, a questão do "poder" dentro da comunidade. Ambos, Mc e Mt, fazem uso das crianças como critério de vida em comunidade. Bacana mesmo. Parabéns pelo texto.
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