sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O CONTRASTE



“Em verdade vos digo: Quem não receber o reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele.” – Marcos 10.15

Receber o reino como criança é não fazer o tipo de pergunta que os fariseus tinham acabado de fazer (Marcos 10.2ss). Qual tinha sido a pergunta? Sobre o divórcio. Na verdade sobre a extensão de uma doutrina, porque parece que o profissional da religião, o estudioso da fé, só sabe perguntar por estas coisas. Deseja saber como é isso, como é aquilo, como funciona este ou aquele, ou onde está a verdade verdadeira, e para que a redundância fique perfeita acrescenta: verdade verdadeira e absoluta.

Daí Jesus apanhou em seus braços as crianças que não perguntaram sobre o divórcio, não sabem o que é o céu, sequer compreendem direito quem é Deus, o que é a vida, o que se deve ou não fazer no sábado. As crianças não perguntaram pela Graça, o que esta significaria e se teria extensão; nada sobre predestinação, sete semanas de Daniel, quando e de modo iria acontecer o medo libertador do apocalipse, se Jesus estava mesmo na origem de tudo, também não perguntaram; se Deus é três pessoas que parecem quatro, mas é tido como se fosse uma, também não. Nada sobre se Jesus e o Cristo são de fato as mesmas pessoas. Nenhuma pergunta sobre milagres, nem mesmo sobre as sagas do Antigo Testamento. Nada. Também não houve qualquer cura, ninguém levantando e carregando a própria maca, nem algum endemoniado restaurado ou leproso curado. Nada. As crianças apenas se deixaram levar: primeiro por anônimos que não aparecem no texto, finalmente do chão para os braços de Jesus. E, ao que parece pelo texto, o mundo de Jesus ficou reduzido aos pequeninos que o rodeava, como que fascinado por elas.

Só isso, simples, muito simples, com plasticidade, afeto, resgate, muita vida e a promessa unilateral e inesperada, que não foi pedida ou exigida, fosse por merecimento ou condição: “porque das tais é o reino de Deus”.

Uns perguntam pelo divórcio, outros se deixam levar pelos braços de Jesus. Cada um faz o que pode.

Natanael Gabriel da Silva

Um comentário:

  1. Muito legal o seu texto. Esses dias escrevi um (wwwibmi.blogspot.com) a partir do Evangelho de Mateus. Lá a perspectiva é outra, a questão do "poder" dentro da comunidade. Ambos, Mc e Mt, fazem uso das crianças como critério de vida em comunidade. Bacana mesmo. Parabéns pelo texto.

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