Seja, porém, o vosso
falar: Sim, sim; não, não, porque o que passa disso é de procedência maligna. –
Mateus 5.37
“Acredito, porque um filho não vai mentir pra mãe!” – foi a
sentença, quase uma clarividência profética, que encerrou a nossa conversa
matinal num sábado de sol. Minha mãe e eu conversávamos sobre filhos e o
assunto migrou para o bem-estar que ela sentia quando, madrugadas adentro,
ficava perguntando como estariam as suas sete crias e, ao mesmo tempo,
descansava: - “Está tudo bem!”, os filhos diziam. Então eu continuei: - “Escuta
isso, mas não acredita”, daí ela me deu a lição dos seus oitenta e seis anos
vividos desde o tempo da revolução de 32 e sua fuga numa madrugada de São João
da Boa Vista, do tempo da lavoura e do pai que morreu cedo, e eu já vivi mais
do que ele, do tempo quando passava as madrugadas pensando o que colocaria à
mesa pra saciar a boca dos sete, do tempo quando fazia roupas de saco de
farinha e de açúcar e as tingia na cor que o uniforme escolar exigia, do quando
só tinha um vestido que o lavava à noite enquanto os pequenos dormiam, do
quando voltava da entrega do bordado a encontrar-se com os dois, os pequenos
dos pequenos, já à porta da padaria à espera do pão que tinha sumido da mesa.
Então o “Acredito, porque um filho não vai mentir pra sua
mãe!” veio acompanhado, cheio de tudo o que poderia ser mais gratificante e
realizador, o sentimento de que valeu a pena, e por conta do acredito, chegaram
o descanso e o sono, na trilha do realizado, da vida que agora se esgota e que
teve uma completude parcial em si mesma: não fez tudo o que precisava, mas fez
tudo o que deveria ter sido feito.
Não foi um “acredito” como se esperasse um milagre, claro
que não. Também não foi um “acredito” politicamente correto, educadamente
pastoral. Isso também não. Por um lado foi um acredito pós-empenho,
pós-esforço, pós-dedicação, um “acredito” no plural e no superlativo e que não
tinha por natureza agradar quem quer que fosse, mas satisfez o próprio coração,
que descansou agasalhado pela confiança. Um acredito que transfere ao outro a
responsabilidade da ética, da autenticidade e da transparência, mesmo que se
torne vítima dele.
Sai de casa naquela manhã de sábado com a memória da fé que
está no passado, não da que reside no futuro. A fé por conta do que passou tem
a cor da simplicidade e traz o merecido descanso e uma incompreensível paz.
Trata-se da fé no que aconteceu, ou um acredito por conta de um princípio, fundamentado
tão somente na ingenuidade. Não espera um milagre, nem é crítico em relação à
resposta, mas é o suficiente pra fazer sorrir e descansar, mesmo que seja na
madrugada.
E daí? Quem precisa de milagre?
Natanael Gabriel da Silva
Nenhum comentário:
Postar um comentário