“Em por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos
esfriará” – Mateus 24.13
O mal odeia o amor. Seu alvo não é gerar a descrença, porque
até mesmo a fé pode ser sua parceira e se dar por potencializada, a ponto de
produzir a morte, seja em nome de uma verdade, seja em um movimento.
Claro está, no discurso de Jesus, que a fé não poderá
alterar o rumo das coisas, nem impedir a fatalidade para onde a vida caminha.
Vocês não irão precisar de fé para, milagrosamente, impedir o mal ou mudar o
rumo da história. Vão precisar de amor, pois só ele é capaz de suportar o
insuportável, cansa o sofrimento de tanto fazer sofrer, e se doa no limite do
que possa ser doado, pois o seu dom maior não é receber ou mudar a ordem das
coisas, mas apenas se dar. O mal não suporta a paciência do amor, sua esperança
e insistência.
Daí a conversa entre Jesus e seus discípulos que começara com a
pergunta sobre o quando do destino do espaço sagrado, consubstanciado no templo,
ao redor do qual o simbólico religioso havia se dado, tanto judaico, como cristão: - Dize-nos quando serão estas coisas e que sinal haverá da tua vinda e do
fim do mundo? – questionaram os discípulos a partir da afirmação de que do
templo não ficaria pedra sobre pedra, como afirmara Jesus. Vai haver muita
coisa, este respondeu, e começou pelas guerras, povos inteiros se digladiando
num inexplicável ódio, que nenhuma motivação explica, e por conta disso e
também em razão da desumanidade generalizada, onde se perderá a importância do outro e da
vida, virão então fome e miséria, parceiras da destruição e da exclusão. Até a
natureza mostrará o seu descontentamento com isso, e a instabilidade será
cósmica. Nem vocês escaparão, dizia Jesus, serão simplesmente atormentados (e
não há expressão mais radical do que esta como superlativo de injustiça e
sofrimento), morrerão ou se tornarão excluídos, e nessa situação toda, não
haverá resistência, desaparecerá a fraternidade e emergirá o conflito, com direito
a falsos profetas, que serão porta-vozes dos falsos cristos; mas o pior de tudo
é que o mal fará sucumbir o amor, e quando o amor se esconde, não há mais nada
para ser feito, apenas o fim (Mateus 24.4-13).
Não vai ficar nada, nem o templo, que também será vítima do ódio, nem
ninguém, porque a doença matará o doente para morrer com ele. E tudo começará
(será futuro mesmo?) com a elevação do cristo, que não é o Cristo (24.4); e um
cristo para não ser Cristo, só se for vazio de amor, pois não consigo entender
a cruz por outro caminho. Nela, na cruz, o profundo humano se entregou à
corrupção da degenerescência e o mal se fez superlativo, para que fosse
identificado, vencido e superado pela perfeita e completa ressurreição. Só que
o mal retorna no cristo que não é o Cristo, e não haverá fé suficiente para
estabelecer o limite ou a compreensão entre um e outro, isto é, o verdadeiro e
o falso se identificarão pela proximidade, e não haverá legitimidade no
discurso religioso capaz de levantar a voz profética contra a malignidade
emergente. Assim o mal se lançará, a provocar a decadência. A desumanidade irá
aflorar, o amor se recolherá e se esconderá para, finalmente, se dar por
ineficaz.
Por quê? Porque o que chamamos de mundo, o que nos inclui, precisa de amor. O amor resiste ao mal porque é a dádiva que faz do
humano, humano. Foi assim com a cruz.
Natanael Gabriel da Silva
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