segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

O PARADOXO DO NATAL: Nascimento e Morte, Morte e Nascimento




“Vendo-se iludido pelos magos, enfureceu-se Herodes grandemente e mandou matar todos os meninos de Belém e de todos os seus arredores, de dois anos para baixo, conforme o tempo do qual com precisa se informara dos magos.” – Mateus 2.16

A beleza da narrativa sobrenatural sobre os eventos do nascimento de Jesus quase escondem a tragédia das crianças vitimadas por Herodes. O paradoxo do Natal, nascimento e morte, morte e nascimento, não deve ser visto como uma coisa oposta a outra, embora esta ideia não esteja definitivamente afastada. É uma questão de pano de fundo onde a malignidade atinge um grau de bestialidade tal que vai além do limite da possibilidade de compreensão.  Ao mesmo tempo, a poesia da vida que nascia, em forma de liberdade e perdão, também extrapolava a possibilidade do entendimento humano no inconceito do que é chamado de Graça. Daí você me pergunta, onde afinal estava Deus que não fez nada em defesa dos inocentes, e daí eu também respondo, que a malignidade do coração humano aparece no texto e na história como registro superlativo, a ponto de fazer o que fez, sem dó ou piedade, dando assim vazão à perdição irrecuperável da condição humana. A morte dos inocentes foi, antes de tudo, um exagero e aberração da falta de sentido.

O nascimento de Jesus é ameaçador e deflagra a morte por conta do inexplicável medo que tomara conta de Herodes. Não iria acontecer nada em seu tempo. Herodes não viveria o bastante pra ver o que significaria a estrela, o menino e Belém. Nada sabia sobre profecias, promessas e salvação. Só entendia de morte e impiedade absoluta. Coisas do coração humano, que geraram pavor e dor, consternação e impotência dos oprimidos, e o lamento espraiou-se sem fim (Mateus 2.17,18), choro e perda inconsolável. Tudo isso fazia a luz de Jesus ser mais luz, o perdão, mais perdão ainda, e a necessidade de misericórdia, mais misericordiosa ainda, e a esperança, mais esperançosa ainda. Tudo no superlativo, pois só um superlativo de vida é capaz de enfrentar o superlativo da morte e da miséria humana; superá-lo e assim tornar o paradoxo apenas aparente, mas sem eliminar a dor da perda, nem ocultar a tragédia humana, quando esta acredita ter o poder e a capacidade de controlar a história.

E foi neste contexto que Jesus nasceu.

Natanael Gabriel da Silva

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