“Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças te dou, ó
Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e
instruídos e as revelaste aos pequeninos.” Mateus 11.25
Tinha que começar com gratidão, porque afinal, nem tudo
estava perdido. Os pequeninos tinham acesso à incompreensível mensagem de
perdão e liberdade, coisas que nem sempre os sistemas religiosos conheciam ou
conhecem. Daí Jesus agradece. Um pouco porque sabia que o traçado estava claro,
mas certamente outro pouco, ou outro muito, porque a trilha havia sido aberta
por um caminho absolutamente novo. Isto é, quando se começa com o discurso pela
busca da verdade, com o domínio do sagrado e imposição de infinitas regras de
conduta, o resultado será sempre o mesmo: cansaço e opressão. Foi assim com o
judaísmo, foi de novo com o cristianismo medieval e de novo com o protestantismo
histórico, e não dá nem pra falar dos mercadores da fé. Tem sempre alguém
querendo segurar nas mãos o modo certo, único/exclusivo de se abraçar a graça e
a liberdade; uns pela hierarquia, outros pelo texto, outros ainda pelo controle
do sobrenatural. Esse alguém, que pode ser uma pessoa ou um colegiado, também
será o mesmo que incluirá, ou não, quem segue e obedece os ditames das regras.
Cansaço, opressão, nada mais que isto e o cristianismo, deste modo, deixa de
ser cristianismo.
Então dizia Jesus: há esperança. O discurso agora vai por
outro caminho e, ao fazer a curva, pegou na passagem e incluiu o marginal,
aquele que estava fora, tanto por ter sido deliberadamente excluído, como por
não compreender que determinadas coisas deveriam fazer parte da vida cristã, de
uma maneira quase óbvia, mas estão ausentes. E o caminho que faz curva é o da
pessoalidade: “Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém
conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho...” E o
que é pessoalidade? Pessoalidade é apenas o estar junto, não importam os
sábados, as liturgias, teologias sistemáticas, ou qualquer outra coisa. Estar
junto é estar junto: pessoa e presença.
Daí vem o alívio. Não vem necessariamente o descanso, como
quem se senta pra esperar a onda passar, reunir forças e novamente sair para o
enfrentamento. Nada disso. Apenas a total transferência da opressão e do
cansaço, substituindo toda essa carga pela graça, liberdade, pessoalidade,
alívio, inclusão, pertencimento, refrigério e esvaziamento completo da culpa. E tudo isso é tão inédito, novo, singular e belo,
que não começa pela solução, nem pelo convite: começa com gratidão. E gratidão
grande, diante da condição de paternidade e criação. Então, o convite, não é convite, é antes de tudo uma oração, e que não pediu nada, só agradeceu.
Natanael Gabriel da Silva
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