“Jesus, porém, vendo isso, indignou-se e disse-lhes: Deixai
vir os pequeninos a mim e não os impeçais, porque dos tais é o Reino de Deus.” –
Marcos 10.14
Vou pedir-lhe um favor: esqueça um pouco o céu do
Apocalipse. Aquele discurso é beligerante demais. Esqueça aquela história de
trono celestial, dos vinte e quatro anciãos guardando e fazendo frente e
proteção do grande Império, numa espécie de projeção superlativa de Roma. Esqueça
um pouco os seres celestiais cheios de olhos, tanto na frente como atrás e que
a gente nunca sabe direito se é pra ajoelhar ou ter pavor, ou as duas coisas ao
mesmo tempo. Veja se consegue apagar um pouco aquela imagem de guerra e de
destruição, exército daqui, exército dali, terça parte daqui, terça parte dali,
esqueça um pouco isso.
É que se o Reino dos Céus é reservado às crianças, ele deve ter a cara e
jeito de um imenso parque infantil. É parquinho mesmo, daqueles que suspendem o
tempo. O tempo fica esquecido e quando chega a hora do almoço, ou do banho, é
uma crueldade que só vendo, porque parece que estas coisas sempre ocorrem no
melhor momento; mas nem se preocupe muito com isso porque no Reino dos Céus não
vai haver banho, não é mesmo? Não vai ter comida, muito menos tempo disso ou
daquilo. Será um tempo eterno de alegria. Brincadeira, só brincadeira. Vai ter
escorregador no céu, como se fosse sempre possível desafiar o espaço e
lançar-se de cima, não sem antes, lá do alto, contemplar os que eram grandes se
tornarem pequenos, numa inversão que só quem escorregou em parque sabe o que
significa. Roupa? Está brincando, não é? Roupa boa é aquela que a gente rola no
chão e fica com areia nos bolsos e no fundo cueca e quanto mais sujo melhor.
Vai ter roda de amigos também, roda rodando de mãos dadas e cantoria de
celebração até todo mundo ficar suado e com cheiro de gente queimada; um suado
sem ficar suado, porque no céu não vai ter suor. Suados e abraçados, como deve
ser em todo e qualquer parque. Vai ter também cadeira de balanço, porque não há
nada mais delicioso que aquele frio na barriga e vento no rosto, motivados pela
velocidade, no vem e vai. Em todas as brincadeiras do parquinho chamado céu a
gente vai precisar do outro. Ninguém pode sentar numa gangorra sozinho/a, nem
jogar o futebol na solidão da individualidade. É por conta disso que nesse
parquinho as pazes não são questão de querer ou não querer, mas já fazem parte
desde sempre: fraternidade, solidariedade e principalmente diversão coletiva.
De repente alguém tira uma bola não se sabe de onde e, mesmo que o dono dela se
negue a jogar no gol ou insista em ser o centroavante, o que vai valer mesmo é
o time, o coletivo e será necessário perdoar logo, não importa quem estava ou
está com a razão. Valerá mais a brincadeira
que a discussão, e mesmo havendo tempo de sobra para qualquer coisa, parece que
até a eternidade será curta para tanta felicidade e alegria.
Um céu feito parquinho. Difícil de imaginar, né? Eu sei. Não
fique aborrecido/a. Foi só uma sugestão, e nem vou perguntar se você, no céu,
iria preferir ruas de ouro ou uma simples corda pra pular e respirar a
imensidão da vida. Não seria justo colocar o ouro numa situação tão
constrangedora.
Tenha uma boa noite e um bom dia!
Natanael Gabriel da Silva
Natanael Gabriel da Silva
Que delícia ler esse texto. Um dia pedi as minhas crianças da igreja que orassem pelos adultos. Foi engraçado. Eles riam. Mas, nos abençoaram com a oração. Mas, imaginar o reino dos céus com um parque foi maravilhoso. Só faltou a amarelinha, bandeirinha, policia e ladrão, etc. Já o "inferno" deve ser cheio de corredor polonês, garrafão. Brincadeiras que machucavam bem, se existe inferno não desejo saber se é divertido. Mas, adorei o seu texto.
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