terça-feira, 14 de maio de 2013

MORTE E TEMPO




“Disse-lhes, pois Jesus: Ainda não é chegado o meu tempo, mas o vosso tempo sempre está pronto.” – João 7.6

Uma coisa é ter um tempo determinado para morrer, outra é morrer todos os dias como se não tivesse um tempo de morte. Foi o impacto e o pensamento que saiu no desencanto em razão da rejeição: os próprios irmãos de Jesus queriam vê-lo à distância. Convidaram Jesus, em tom de conselho e amizade politiqueira, para que empreendesse uma viagem a um destino incerto. Não seria demais pensar no quanto mais longe melhor, especialmente naqueles dias de festa nacional. Desejam celebrar sem o incômodo do irmão, que resolvera perder a vida questionando o sentido de justiça e igualdade, amor e inclusão.

O texto é trágico. O assunto morte e tempo se desenrolam num diálogo áspero e melancólico, a começar com a declaração de morte antecipada (7.1), seguida do convite à deportação voluntária para que Jesus se tornasse profeta noutro canto. Se a migração sugerida for considerada uma forma de morte, somada à ameaça da morte sentenciada pelos judeus, então Jesus teria, ao mesmo tempo, passado por três situações de morte, sendo a terceira a profunda rejeição e incompreensão dos próprios irmãos. Numa só tacada: perdera a confiança da liderança religiosa que, diga-se de passagem, não lhe faria falta; perderia o lugar de sua vivência, cultura e principalmente, espaço profético; e fora banido da convivência com os próprios irmãos. Três tipos de morte.

No drama da morte tríplice, por que não acrescentar uma quarta? Daí Jesus antecipou: Tenho um tempo para morrer, mas não morro hoje, nem agora, porque este é o tempo profético contra esta religiosidade torta, preconceituosa, vazia e excludente; que prefere festas litúrgicas e celebrações, mas não compreende o valor da vida humana. Jesus não foi, ficou e saiu para o Templo. Lá confirmou o rompimento de Deus com a segregação e o legalismo: a vida humana é mais importante que os ritos e as normas da religião (7.23); declarou-se como o amor personificado de Deus e fonte de vida (7.33, 37 e 38). E se você acrescentar, logo em seguida, a forma como ele preservou a vida da chamada mulher adúltera, fica de bom tamanho.

Afinal, o que é a morte? Estava, ou está, em quem ou onde?

Natanael Gabriel da Silva


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