“Meu dedo mínimo é
mais grosso que a cintura de meu pai.” – 1 Reis 12.10c
Comigo é assim, ou
vai ou racha! Pois é, rachou, e quem sofreu não foi ele, Roboão.
Vamos
começar mais no começo e lembrar que Salomão tinha morrido. Jeroboão, outro
candidato à tirania, refugiado no Egito, voltou porque a oportunidade se
abrira. Reuniu um grupo que o apoiava e tentou pressionar o novo rei, fazendo
uma proposta que ia, desde a redução de impostos como até, possivelmente, a
diminuição da pompa e do ciclo de grandeza que Salomão em nome do
empreendedorismo (mesmo que não conhecesse esta palavra) impusera num ritmo
alucinante. Foram quarenta anos em quarenta anos, pra inveja mortal de qualquer
Juscelino.
Reduzindo
os impostos, Roboão, que era o candidato do sul a rei (?), ficaria esmagado. Se
não fizesse isso, sofreria a perda do poder aos pobres, expropriados e
abandonados do norte. Pediu então ajuda aos universitários. Os mais
experientes, os que gostavam do trabalho negociado e que queriam ganhar tempo, desejavam
controlar a situação com cautela, pra fazer algo agora pra reformular depois,
perder um pouco, mas não perder muito, essa coisa que a gente conhece que às
vezes recebe o nome de perdão e que funciona, estes orientaram Roboão a que
cedesse e evitasse um conflito a qualquer custo. Daí Roboão resolveu consultar
a escolinha dele, de gente como ele, que gostava de uma boa briga, que se dava
bem no conflito, e os pré-escolares disseram a Roboão: - Faça isso não, mostre
pra eles que você é o cara.
Bem,
daí o cara, que desconhecia ser infantil, e que pouco se importava com as
pessoas, o governo, a gestão, o diálogo e, principalmente, a pacificação, coisas
nas quais o pai dele, Salomão, era pós-doutor, decidiu pela força e deu no que
deu. Um reino pra um lado e outro pro outro, e nunca mais o Israel antigo
voltou a ser um só.
Moral
da história: canja de galinha e espírito pacificador não faz mal pra ninguém.
Todo pacificador é tido como inoperante, porque não impõe o ritmo que as
decisões de guerra exigem. É que ser pacificador é mover as peças a passos
curtos, medidos, programados, passos demorados, que dependem de uma situação
que deverá aparecer e da qual se aproveitará para ensinar que o caminho da paz
faz muito sentido. O caminho da paz traz a alegria do pertencimento, do gostar
de fazer parte, não tem triunfalismo (agora sim, agora vamos mostrar quem
somos), nem projetos arrojados, porque a paz é simples, é a boa convivência, é
a alegria, é o discurso do amor, da palavra branda, inteligente, apontando que
o espírito da adversidade e da guerra não são o melhores caminhos, é o suportar
o que não pode ser suportado para que a paz seja vivida e degustada, saboreada,
tão natural que quase ninguém percebe, e quando alguém afirma meio perguntando,
o que está acontecendo que tudo está tão bem, está leve, há mais acolhimento e
companheirismo, ninguém, ou pouca gente, irá se lembrar de que tem alguém
semeando a paz, que vai brotando, e quando você vê, virou árvore e as aves vêm
se abrigar sob sua copa.
A pacificação tem tudo aquilo que é o caminhar mais uma
milha ou de dar o rosto, espelho da alma, para que alguém o/a agrida na sua mais profunda
intimidade, e não fazer nada para que a paz se dê
como limite. Não quer dizer que quem caminha uma segunda milha concorda com o
caminhar, nem quem é agredido com a agressão, quer dizer apenas que é possível
trilhar o caminho que ninguém deseja, e sofrer o dano moral que ninguém
suporta, somente pra ensinar que é possível a interrupção da guerra e a
celebração da paz. A paz sempre é possível, e todo pacificador sabe disso. Não
é simples, nem automática, porque o mais primitivo e simples é a briga,
infantil, imatura e intransigente. Promover a paz é tão difícil que um dia
Jesus disse aos seus aprendizes: Bem-aventurados os pacificadores.
pr.
Natanael Gabriel da Silva
Bom pastor... me confortou e me confirmou como me portar nesta excelente obra.Abraço
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