quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

ASSIM NASCE UM SÁBIO


“E deu Deus a Salomão sabedoria, e muitíssimo entendimento, e largueza de coração, como a areia que está na praia do mar” – I Reis 4.29

Desculpe a informação mais técnica, quase como aquele que leva à mesa as panelas do fogão. Contudo, se você fizer a leitura do primeiro livro dos Reis do capítulo 1 ao 4, de uma só vez, entenderá a minha preocupação.

É que a oração, à noite, feita por Salomão (3.5-15) pode ser compreendida como uma manifestação voluntária e quase acidental, ou até mesmo como necessidade de um novo projeto de vida. Raramente se pensa que fora uma noite de crise e de reencontro com um novo sentido de ser e viver. Pode-se ler o texto imaginando que Salomão estava descansando, como uma criança, e num dado momento, por meio de um sonho, o Senhor conversou com ele. Pode-se, porém, pensar que Salomão sofria a dor profunda do desconforto e descompasso de vida, pois ninguém seria capaz de viver a vida toda sob a égide do medo e da morte. 

É daí que entra a diferença entre o Salomão dos eventos anteriores à noite escura da alma, como diria São João da Cruz, e o Salomão despertado no dia seguinte. Anteriormente, Salomão via o mal e a ameaça em tudo, e começou matando. Matou em nome de Deus. Viu a ameaça futura, e tentou prevenir o presente, porque todo o ditador e centralizador, que para o rei caberia mais a expressão “tirania”, mata no presente pra se proteger do futuro, lança a dúvida da catástrofe aos subordinados que o elevam à categoria de único, capacitado e responsável pra livrar a comunidade de um futuro que está colocado lá somente através do medo. Tipo Vargas que se deu como único capaz de enfrentar uma ameaça que não havia, mas que foi suficiente pra apresentar-se como o libertador de fibra que a sociedade precisava. Salomão aprendeu cedo que não se lidera assim. 

Daí entrou em pânico, e foi preciso uma noite escura da alma para que ele se desse como uma pessoa de bom senso, inteligência e que abrisse o coração para a vida e às pessoas. Deste modo, não foi por acaso que a primeira coisa que faz depois do sonho, é julgar prostitutas. Não julgar as prostitutas por serem prostitutas, mas estava lá presente a questão moral de duas mulheres que administravam uma casa de prostituição, e estava também presente a vida futura de uma desconhecida e inonimada criança. Foi o seu primeiro teste. Descobriu que é saboroso viver com bom senso, utilizar a inteligência pra salvar ao invés de condenar, e ter o coração escancarado pra passar tudo e abraçar tudo, um coração da largueza do mundo, imenso, alto e aberto pra preservar a vida. 

O que fez Salomão depois? Foi ser poeta (4.32) e visitou a natureza pra aprender o que é paz e vida (4.33). São os sintomas de um coração aberto: preservar a vida, cantar e escrever o exagero de sentido da existência na poética e celebrar a natureza. Depois disso, nasceu o sábio (4.34). 

pr. Natanael Gabriel da Silva

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