“Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados
filhos de Deus.” – Mateus 5.9
Talvez a paz seja um sonho agudo do cristianismo. Quem
for pobre de espírito, herdará o reino do céu (Mateus 5.3), que é
ótimo. Quem chorar receberá o pastoreio do
Senhor (Mateus 5.4), que já não é uma promessa de “lugar” (Reino), mas de
profundidade da alma, e isto é inigualável. Quem for humilde, herdará a terra
(Mateus 5.5), coisa que, pelo esforço e sonho, todo o judeu sabia o que
significava peregrinar em busca da Terra Santa, e herdar a terra é um enorme
presente. Quem tiver fome e sede de justiça, será saciado/a (Mateus 5.6), e
nunca mais ter fome e sede até parece um sonho, especialmente quando a miséria
se torna o problema da existência. Quem for misericordioso, encontrará a
misericórdia para si (Mateus 5.7), que é o retorno de quem se compadeceu a
miséria do outro. Quem for limpo de coração, vai ver a Deus (Mateus 5.8), uma
experiência única, como se fosse possível ser um Isaías do capítulo 6. Agora,
só o pacificador, se torna filho de Deus.
Tornar-se filho de Deus é ter a natureza de Deus, como se
fosse um código de filiação que passa de pai para filho, na condição de marca
ou traço. Não é algo que se possa ter o controle, não é um lugar que se herda,
ou um Reino onde se habita. Também não é ver a Deus, ou ter os dramas da vida
equacionados por Ele. Tudo isso é indizível, não tem tamanho, não pode ser
medido, nem mesmo pensado. Contudo, ter a natureza de Deus, como se fosse uma
marca biológica que se faz presente e influencia as gerações seguintes da
própria vida, esta condição, é dada apenas ao pacificador, porque Deus, é Deus de paz.
Não tome, portanto, como exemplo de fé e determinação, a
luta história de Israel e sua conquista da terra, quanto tanta gente morreu,
incluindo mulheres e crianças, e basta ler os primeiros capítulos do livro de
Josué para conhecer, ou revisitar, a história. Aquela foi uma religião que não
deu certo. Nada de beligerância, nem conflito, nem guerra. Paz, somente paz.
Nada de utilizar o discurso profético como recurso de discórdia e imposição da própria vontade. Não. Nem tomar
como regra o inconformismo de Jesus no Templo diante dos cambistas. Nada disso.
Tome a cruz, e siga Jesus. Tome o deixo-vos a paz a minha paz vos dou. Ou o
vós sereis os meus discipulos, e todos verão isso, se vos amardes uns aos outros. Ainda a
crucificação, quando Jesus, sem qualquer sentimento de vingança, disse ao Pai: Pai perdoa-lhes porque eles
não sabem o que fazem. O cristianismo é, antes de tudo vivência de paz,
fraternidade, inclusão, sem qualquer sombra de desumanidade ou preconceito.
É difícil? Claro que é difícil! Ser pacificador é muito
difícil. É mais fácil agredir, se impor, defender o espaço, e dar-se como
vencedor naquilo que julgou ter sido uma batalha. Isso é tão fácil que não há
necessidade nem de esforço, basta o ímpeto e o agir espontâneo. Agora, se você
conseguir ser um pacificador, e isto significa o esforço para ser diferente e
conter a desumanidade que o ser humano possui no coração, terá
o rosto de Deus (Gênesis 33.10) e será a própria herança do Senhor, um filho.
Pr. Natanael Gabriel da Silva
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