“Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros;
como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis.” – João 13.34
Tanto Mateus, quanto Lucas, registram os dois grandes
mandamentos: Amar ao Senhor de todo coração, alma, forças e entendimento e amar
o próximo como a si mesmo. (Lucas 10.27 e Mateus 22.37- 40). João acrescenta
uma extensão ao sentido do amor e o torna uma relação recíproca, de
interdependência e que faz deslocar a provisão do amor do sujeito que ama, para
a dinâmica da interpessoalidade. Nesse caso o amor estaria “entre” e não
exclusivamente “no”, é a passagem da pessoa para a comunhão.
Vamos por partes, se é que o amor possa ser fatiado como um
processo no Supremo. Notoriamente os tempos do Quarto Evangelho eram outros, e
a ausência de Jesus, agora já na talvez terceira geração de discípulos, não
seria resolvida brevemente. A expectativa de um retorno imediato com o tempo foi
se transformando numa esperança, e o suportar as adversidades só seria possível
sob a convivência em amor, daí o Terceiro Mandamento.
Trata-se da própria identidade da
comunidade que se formava e que deveria ser conhecida pelo amor e não pela capacidade
disciplinadora, ou de adoração, ou de exposição do sobrenatural por
meio de milagres, nem pelo número de participantes ou recursos que possa dispor; fossem tais marcas separadas ou somadas, pois tudo isso junto, não tem como resultado o amor. Nesse caso, a ordem dos fatores altera o produto, porque o amor tem que vir primeiro, fundamento único, isolado e exclusivo. Conhecem-se os discípulos pelo amor que nutrem e
desenvolvem entre si, a ponto de não se saber quem ama, porque sua relação não
é de pessoalidade, mas coletiva. Todos se amando, uns aos outros, para que o amor seja
mais significativo do que qualquer pessoa e a mais evidente virtude.
Trata-se da real entrega de vida,
porque tem como referência e fonte a graça de Jesus, voluntária, dadivosa,
desinteressada e sem limite, para além da fronteira da vida; se preciso, cruza
a linha (João 15.13). Tem como disciplina a igualdade, e o relacionamento se dá
na amizade, não na subordinação, pois a expressão do amor não é tornar o
outro um servil, mas fazê-lo/a um/a amigo/a. É a transparência, honestidade, ingenuidade, simplicidade ou compartilhamento,
porque o próprio Jesus fizera dos discípulos amigos e a eles dissera tudo o
que ouvira do Pai.
O Terceiro Mandamento supera a obrigatoriedade em relação ao
próximo, e a possível subjetividade a Deus. Trata-se da dissolução
de quem ama na construção de um coletivo, cuja pessoalidade manifesta se dá como a mais significativa virtude já ensinada e desejada: o amor. É como se o sujeito fosse o todo e o amor a pessoalidade da comunidade.
pr. Natanael Gabriel da Silva
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